A Chacina de Currais Novos/RN
Em 1935, comunistas e presos de justiça foram fuzilados.
Luiz Gonzaga Cortez
No dia 23 de novembro de 2015, a revolta comunista de 1935 fez 81 anos. Dos
que pegaram em armas ou não, mas que participaram da insurreição, só resta
vivo o ex-gráfico Francisco Meneleu dos Santos, natural de Areia Branca/RN e
residente em Fortaleza/CE. * Nos últimos 5 anos, Meneleu veio a Natal várias vezes e aqui recebeu
homenagens dos membros do PC do B.
Mas deixemos isso de lado e vamos relembrar a misteriosa, esquecida e
famigerada Chacina de Currais Novos. Você, caro leitor, já ouviu falar nesse
massacre?
Pois saiba que tem gente viva que viu a chacina na Serra da Dorna, perto de
Barra Verde e do Saco do Veado, município de Currais Novos, segundo informa
Volney Liberato, pesquisador daquela cidade seridoense, onde os integralistas,
agricultores e fazendeiros, comandados por sargentos da Polícia Militar,
destacados em Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Acari e outras cidades,
enfrentaram e derrotaram os revoltosos de novembro de 1935, na Serra do
Doutor, município de Santa Cruz.
Os elementos civis que se destacaram no combate, conhecido por "Fogo da
Serra do Doutor", foram os integralistas de Carnaúba dos Dantas, os irmãos
Lúcio, Felinto (este ficou famoso, décadas depois, como compositor de hinos
sacros e dobrados), Manoel Lúcio e Joel e os fogueteiros que fabricaram as
bombas caseiras lançadas nos veículos do Exército que transportavam os
militares que se destinavam à cidade de Caicó com o fito de implantar o poder
revolucionário do Partido Comunista e da Aliança Nacional Libertadora. Dinarte
Mariz, que não pisou na serra, foi para Campina Grande buscar armas e
munições. Depois da emboscada feita pelos policiais militares e os integralistas,
Dinarte apareceu por lá em direção a Natal.
Quem primeiro abordou esse assunto foi o falecido escritor João Maria Furtado
(Vertentes, p. 139, Livraria Olímpica Editora Ltda, Rio, 1976) ao transcrever
parte de depoimento prestado por José Bezerra de Araújo, político da UDN,
ligado a Dinarte Mariz, sobre os acontecimentos na Serra do Doutor e Currais
Novos. Dr. José Bezerra de Araújo disse a João Maria Furtado que após a
derrota dos comunistas, "elementos do Partido Popular tiraram da cadeia de
Currais Novos presos de justiça que lá se achavam e os que eram adversários
políticos foram sumariamente fuzilados, depois de conduzidos a lugar ermo, fora
da cidade". O Partido Popular era liderado por José Augusto Bezerra de
Medeiros e Rafael Fernandes Gurjão, este o governador destituído pelos
comunistas em 23 de novembro de 1935.
Mas agora, mais de 20 anos depois que publiquei reportagens sobre "O
Comunismo e as lutas políticas do RN na década de 30", em O POTI, um
pesquisador de Currais Novos, Volney Liberato, após ler uma matéria minha
sobre o ex-marinheiro Jaime de Souza Bastos, 88 anos, que mora em Igapó,
Natal, disse que as informações publicadas conferem com algumas informações
que ele tem. "Os mais antigos comentam, sem ódio e sem paixões, que quando
retiraram os presos da antiga cadeia da rua do Rosário (hoje Vivaldo Pereira),
pelos integrantes do Partido Popular, quem era adversário, mesmo sem ser
comunista, foi dali retirado e executado sumariamente em local ermo do
município, sendo depois seus corpos jogados na Serra da Dorna.
Existe também outra versão que foi dada pelo soldado reformado João
Rodrigues, hoje com 92 anos de idade, de que logo após os acontecimentos da
Serra do Doutor, poderosos da cidade se dirigiram até a cadeia, onde lá
mandaram soltar todos os presos, ordenando que fossem embora, que
fugissem. Muitos deles ganharam o caminho de Frei Martinho/PB, mas antes de
chegarem a Rio da Boa Vista foram emboscados por cabras contratados por
esses poderosos e sumariamente executados.
Dois deles ainda chegaram com
vida à cidade, mas um deles finou-se na calçada do cemitério de Santana, sob
as esporas de um desses poderosos, enquanto o outro era jogado por cima da
parede, da calçada para o interior do cemitério, pelos cabras contratados, vindo
a falecer da queda.
O pai de um desses que assim foi executado terminou por ir embora de Currais
Novos, pois começou a sofrer discriminação e reserva por parte do "coronelato"
local. O pai do outro, se não me engano, enlouqueceu, terminando seus dias
em Natal/RN. Como os fatos históricos, principalmente os que se referem aos
acontecimentos de 1935, principalmente aqui em Currais Novos, ainda não são
muito velados, pois os nomes dessas duas vítimas do sistema repressor do PP,
não nos foi fornecido, nem os nomes dos seus pais, pois os mais velhos ainda
temem em declinar nomes, como se ainda estivéssemos em plena ditadura do
Estado Novo ou na Redentora de 64", assegurou o pesquisador Volney
Liberato.
* Texto escrito em 2006
* Francisco Meneleu dos Santos faleceu em Fortaleza/CE
www.dhnet.org.br
A Revolta Comunista de 35 e o Tenente José Bastos.
O tenente da PM/RN, José Bastos foi delegado de polícia em Parelhas, Currais Novos e Mossoró. Em novembro de 1935, ele colocou os revoltosos presos em Serra do Doutor na cadeia de Currais Novos. Dias depois, os presos foram mortos na Gruta da Dorna, ao lado da estrada em direção a Cerro Corá. Meses depois, o tenente José Bastos foi prestigiado pela padre Mota, vigário de Mossoró (foto superior). Na década de 40, participou de um evento no fórum de Mossoró, ao lado de empresários e magistrados e advogados (foto inferior).
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