quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pedro Leão, nascido na Bahia, quando assumiu a presidência da Província do Rio Grande do Norte, aos 33 anos de idade, teve o cuidado de conhecer o interior, e, por isso, fez uma viagem de 44 dias. Este é o segundo artigo, onde posto trechos dessa viagem. ​ ​Ele foi presidente de 7 províncias do Brasil. De onde vinha seu prestígio?​

terça-feira, 24 de junho de 2014

A viagem de Leão Veloso (II)



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Continuemos o relato de Francisco Othílio, iniciado no artigo anterior. Preparados que foram as cousas, partimos para a Vila do Príncipe (Caicó), chegando nós às 9 horas à fazenda São Paulo, do Sr. Rodrigo de Medeiros Rocha, onde passamos a força do sol.
Aquele lugar merece que eu faça dele especial menção, não só pela notável afabilidade com que fomos obsequiados, mas pelo indizível prazer que mostraram todas as pessoas da família do Sr. Rodrigo com a nossa chegada.
Com efeito, o Sr. Rodrigo, de quem tanto se não esperava, não pela falta de bons desejos, mas em razão de suas circunstâncias pouco lisonjeiras, obsequiou-nos a nada deixar a desejar.
A Vila do Príncipe não há dúvida que é hoje uma das melhores do sertão; e apesar de ser o seu solo nimiamente árido, todavia ali não faltam recursos; porque os seus habitantes empregam todos os seus esforços a fim de lhes serem menos difíceis e penosos os meios de subsistência.
O terreno sobre que se acha ela plantada nada tem de agradável, e ao contrário é feio e bastante pedregoso, porém muito nova e boa a sua edificação. A sua matriz é antiga, porém de boa construção; tem menos cômodos do que a de nossa capital, e é mesmo alguma coisa diferente em sua divisão interior, mas excede-a em asseio. Há um gosto extraordinário na festa da padroeira e tem ela tanta nomeada que muitas pessoas do centro do Ceará, Paraíba e até mesmo de Pernambuco vão ali passá-la com suas famílias. 
Um povo imenso assiste sempre às novenas e às missas cantadas, que ali celebram-se durante dez dias de festas. 
Calculou-se em quatro mil pessoas que acompanham a procissão, inclusive muitas senhoras, que por esse ato não são censuradas em razão de ser costume antigo.
O madamismo apresenta-se sempre com muito luxo, mas esse luxo pouco brilhava, porque muitos dos seus vestidos ainda são feitos por usos que por aqui vão sendo esquecidos.
O bom acolhimento, que prestaram os senhores Vigário Rafael Fernandes, e o Dr. Paulino Ferreira da Silva, é digno do maior elogio.
Depois de quatro dias de folganças passados entre o bulício de uma numerosa população, que igualmente gozava dos prazeres da festa, voltamos ao nosso primitivo estado de insipidez e de incômodos, sócios inseparáveis daqueles que viajam pelos sertões em épocas já um pouco inconvenientes.
E qual não foi a tristeza que infundiu em meu coração o dia 29, em que pela manhã muito cedo vi deixar aqueles lugares tantas famílias que haviam abrilhantado a festa com a sua assistência. A nossa viagem estava destinada para a tarde do dia acima referido. E de feito às 4 horas encetamos a jornada com destino à Serra do Martins, servindo-nos de guia até aquele ponto o Sr, José Bernardo de Medeiros, um excelente companheiro. Ao sairmos acompanharam-nos muitas pessoas, algumas das quais nos fizeram companhia até a – Saudade – Fazenda do comandante superior Mariz, onde pernoitamos e fomos recebidos cavalheiramente. Ali chegamos às 7 da noite.
No dia 30 pela manhã continuamos nossa marcha tocando na povoação de Jardim de Piranhas às 9 horas pouco mais ou menos. Demoramo-nos um pouco enquanto sua excelência examinava a Capela daquela povoação, e depois seguimos. Às 11 horas do dia estávamos na Fazenda Pilões (Distrito da Paraíba), fazenda de uma viúva cujo nome não tivemos a curiosidade de perguntar. Ali descansamos, recebendo-nos ela belissimamente. Às 5 horas da tarde tivemos de partir.
Ainda se viam perfeitamente no horizonte os coloridos raios de sol quando avistamos na eminência de um longo campo dois edifícios; eram a casa do major José Batista Saraiva e uma capelinha que acha-se ainda em obra. Estávamos na fazenda Cachoeira também na Paraíba, uma das mais bonitas que encontramos pelo Centro.
Naquele lugar passamos uma noite bem divertida. Depois de uma lauta ceia, que foi presidida por três filhas e sobrinhas do mesmo major, levamos até uma hora da noite ouvindo-as cantarem várias modinhas; dando eu também nessa ocasião uma prova de que não era muito hóspede no violão.
No dia 31 pela manhã muito cedo estávamos de marcha, passando às 7 horas na povoação de Belém (ainda na Paraíba) e chegando-se ao Patu de fora às nove e meia.
Tomamos a casa do capitão José Severino de Moura, que preventivamente havia mandado um próprio à Cachoeira com uma carta convidando ao Sr. Presidente para descansar lá, no caso de passar por aquele lugar. O Sr. José Severino tratou-nos como permitiam as suas circunstâncias, e convenço-me de que ninguém de nossa comitiva ficou descontente.
Antes de encerrar este artigo, alguns comentários: o dono da fazenda Saudade, citado por Othílio, não era o comandante superior das Legiões da Guarda Nacional da Vila do Príncipe e Acari, Antonio Álvares Mariz, como pensou Câmara Cascudo, pois faleceu em 1854, mas o filho dele, Manoel Monteiro Mariz, comandante superior da comarca do Seridó, que faleceu em 1864; José Bernardo de Medeiros era avô dos ex-governadores Dinarte Mariz e José Augusto; O vigário citado por Othílio devia ser Padre Francisco Rafael Fernandes, sobrinho do senador, Padre Francisco de Brito Guerra; Dr. Paulino Ferreira da Silva, bacharel, foi promotor e deputado da Assembleia Provincial; Havia um Rodrigo de Medeiros Rocha (Rodrigo Gordo), dono da Fazenda São Paulo, mas que em 1834 já era falecido. Talvez o Rodrigo, citado por Othílio, seja descendente daquele; O presidente Pedro Leão Velloso tinha 33 anos de idade, nessa época.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A viagem de um Presidente da Província do RN ao interior (1861).

Segunda-feira, 16 de junho de 2014

A viagem de Leão Veloso (I)



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Havia, no Rio Grande do Norte, um jornal chamado “O Recreio”, e foi nele que Francisco Othílio Álvares da Silva, secretário de governo desta Província, escreveu um relato da viagem que fez o Presidente da mesma, Pedro Leão Veloso, no ano de 1861, em 44 dias. Foi das 13 edições, digitalizadas pela Biblioteca Nacional, que extraímos alguns trechos do Relatório de Viagem, para recompor esse relato.
Ás quatro horas da tarde do dia 11 embarcamos para o Morro, aonde chegamos às noves da noite. 
Principiaram dali os nossos maiores incômodos de viagem, porque, depois de andarmos de Herodes para Pilatos seguramente uma hora, procurando uma casa onde mais comodamente pernoitássemos, fomos por fim obrigados, em desconto dos nossos pecados, a ir dar com os ossos em um grande e imundo telheiro, que constitui a tão falada Fazenda do Morro: porém que a meu ver mais parece um asilo de cascavéis e jararacas do que habitação de homens! E era a residência de um Comandante Superior!
Ali e pela primeira vez deu sua Excelência exuberante provas de um verdadeiro viajante, não se mostrando enfadado por aquela péssima pousada, e acomodando-se com a refeição que de momento se preparou, já às 11 horas da noite.
Ás 9 do dia 12 chegaram os cavalos que se tinham mandado vir do Assú para nossa viagem e às 4 da tarde para ali partimos.
Ás 7 da noite chegamos ao Poço Verde, Fazenda do senhor Francisco Lins Wanderley, que hospedou-nos como era para esperar e desejar, passando ali a noite, e saindo para o Assú no dia seguinte pela manhã muito cedo.
O senhor coronel Manoel Lins Wanderley foi encarregado de nos hospedar, e louvores lhe sejam dados porque tratou-nos maravilhosamente. Eis-me, pois, na cidade do Assú, de que tão vantajosamente sempre ouvia falar. Em verdade a sua localidade é bela, e a edificação, que de presente está amortecida, revela algum gosto. Situada ao norte do rio do mesmo nome, em cujas férteis margens se fazem muitas e variadas plantações, ela oferece mais amplos recursos para a comodidade da vida, do que outros lugares, de que falarei adiante. Na tarde do dia 16, o excelentíssimo senhor Presidente, a convite de algumas pessoas, deu um passeio ao Piató, e visitou o cemitério. 
Disposta as cousas para a nossa viagem, partimos para o Acary no dia 17, às 4 horas da tarde, acompanhando-nos até a distância de 2 léguas as principais pessoas do lugar. 
Nesse trajeto, que na opinião de muitos consta de 28 léguas de excelente caminho, mas que pela minha tabela são 32, e boas, gastamos dois dias e meio, descansando nós e pernoitando em diversas fazendas.
Por aqueles lugares a ignorância ainda grassa admiravelmente, e tanto é isto uma verdade, que em um deles a – Divisão- onde estivemos uma manhã, um sujeito ouvindo falar no doutor engenheiro, dirigiu-se a mim e perguntou-me quais eram as mágicas que ele fazia.
Ás 8 horas da noite do dia 19 chegamos ao Acari já bem maçados, encontrando ao entrar da rua o Senhor Vigário Thomaz Pereira de Araújo, que sendo avisado já às 6 horas que sua Excelência para ali se dirigia, ia ao seu encontro em companhia de dois homens. A sua casa foi destinada para nossa hospedagem.
 Sem pretender ofender o melindre das pessoas que obsequiaram ao excelentíssimo Presidente e sua comitiva nesta viagem, forçoso é confessar que a jovialidade, franqueza, e maneiras delicadas com que nos tratou o Sr. Vigário Thomaz, conquistaram os nossas puras simpatias, o nosso sincero reconhecimento.
Enganei-me completamente no juízo que fazia da Vila do Acary, supondo ser de péssima edificação; mas não: contém 92 casas, sendo bem sofrível a maior parte delas. Notei, porém, que muitas estivessem fechadas, mas deram-me a razão disso que é – morarem os donos em suas fazendas ao redor da Vila, nas distancias de 2,3,4 e 5 léguas.
Uma matriz de grandes dimensões se está ali construindo, a qual, sendo concluída pelo modo por que deseja o Reverendo Vigário, será incontestavelmente uma das melhores da Província.
No dia 21 ás quatro horas da tarde já íamos no caminho da Vila do Jardim. Apesar, porém, do vagar com que caminhava o sendeiro, sempre às 8 horas da noite estávamos na Vila. Apeiei-me e entrei na casa destinada para nossa pousada, a do Sr. Manoel Ildefonso de Oliveira e Azevedo.
Aquela Vila que presentemente conta 36 casas de boa construção, pode ser um dos lugares importantes do centro, em razão do comércio que entretém com o Ceará e Paraíba.
Em a noite desse mesmo dia, a pedido do Sr. João Carlos, que tinha algumas relações na casa, duas filhas do Sr. Ildefonso nos deram a honra de ouvi-las por algumas horas, tocando algumas peças de difícil execução e cantando varias modinhas de gosto.
Ao término deste 1º artigo fazemos algumas observações: O comandante superior, de que fala Francisco Othílio, era Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, dono da Fazenda Morro, falecido em 1860; Manoel Ildefonso era o bisavô do professor Max Cunha de Azevedo; O padre Thomaz Pereira de Araújo era neto pela parte materna do presidente que foi da nossa província, Thomaz de Araújo Pereira (3º do nome). O padre fez uma escritura de perfilhação, em 1869, onde reconheceu seus seis filhos que teve com mulheres solteiras, faleceu em 1893; Manoel Lins Wanderley era o pai da Baronesa de Serra Branca.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Amanhã, 18, reunião dos genealogistas.

terça-feira, 17 de junho de 2014



O Presidente do INSTITUTO NORTE-RIOGRANDENSE DE GENEALOGIA, escritor Ormuz Barbalho Simonetti,  CONVOCOU uma reunião para a próxima QUARTA-FEIRA, DIA 18 DE JUNHO NO ANEXO DO IHGRN (Memorial Oriano de Almeida), pelas 15:00 horas para tratar de assuntos importantes, quais sejam:

 
a)      Eleições para a nova Diretoria e Conselho Fiscal até o dia 29 de AGOSTO próximo vindouro, para dar tempo à posse no dia 17 de setembro para preenchimento das vagas de: Presidente, Vice-Presidente, Secretário, Tesoureiro, Conselho Fiscal (3) e um Suplente do mesmo Conselho (mandato de 2 anos), que serão realizadas em Natal;
b)     pelo nosso :Estatuto, “São deveres dos sócios (art. 8º), cumprir as disposições estatutárias; satisfazer as contribuições financeiras, etc.”, para o que informamos a nossa Conta no Banco do Brasil S/A - Ag. 1588-1 e conta corrente nº 909090-8 e o valor da anuidade de R$ 120,00;
c) para organizar nossas finanças e por ser obrigação estatutária, precisamos decidir até quando devem se exigir a adimplência, pois anteriormente foi decidido anistiar todos os débitos até 2010. Ficando exigíveis as anuidades de 2011 e 2012, totalizando R$ 240,00;
d) sem a prova da adimplência o sócio efetivo NÃO PODE VOTAR NEM SER VOTADO;
e) para se realizar o pleito existem obrigações de publicação de avisos na imprensa e nós não temos caixa para tal encargo;
f) conferir os nossos registros para o levantamento dos sócios inscritos. Para ser considerado sócio o interessado deve ser admitido na forma do art. 5º do Estatuto, isto é, aprovado pela Diretoria, sem o que não será considerado sócio;
g) os membros eleitos só podem ser reeleitos para o mesmo cargo, somente uma vez e pelo mesmo prazo de 2 anos;
h) será designada uma Comissão Eleitoral que editará as normas e as datas, inclusive a forma de voto por correspondência e pela via eletrônica e internet;
i) as chapas terão que apresentar candidatos para TODOS OS CARGOS.
Com a definição desses assuntos será aprazada uma Assembleia Geral, cuja data definitiva será oportunamente anunciada.
  Fonte: blog do Instituto Histórico e Geográfico do RN.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

​Veja o jazigo do capitão e a placa feita pela família. Ele merecia uma coisa melhor. Mas, aqui mesmo em Natal, seu busto, que está na praça com seu nome, não tem nenhuma informação. Coisas do Brasil. a). João Felipe.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

 

 

Artigo do professor João Felipe da Trindade.

O jazigo do capitão J. da Penha

Este ano já completou cem anos que o capitão J. da Penha faleceu, vítima de bandido de aluguel, lá em Miguel Calmon, no Ceará.
Estive em Fortaleza, e no dia 10 de junho fui visitar o cemitério, na companhia de meu primo Luciano Klein, em busca do túmulo onde está enterrado o capitão. Pensávamos encontrar uma edificação mais condizente com a importância que que J. da Penha representou para o Ceará, pois estudou lá na Escola Militar, serviu por um bom tempo a esse Estado e era seu deputado estadual quando foi assassinado.
Infelizmente, nem a família cuidou do seu jazigo, com se pode ver das fotos a seguir.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobrenomes incomuns.



Nomes  incomuns de famílias.
Luiz Gonzaga Cortez
Nos últimos meses, jogando conversa fora nos bares e chopingues, recebi sugestões sobre a elaboração de um pequeno artigo sobre os troncos familiares e sobrenomes  idênticos a nomes de animais, aves, árvores,plantas, acidentes geográficos, nominações exóticas e outros quetais. Uma tentativa de levantamento genealógico sem grandes pretensões, mas simples registros. Pequenas resenhas.
O “apanhado” é vasto e merece muito cuidado no trato do assunto, pois envolve famílias de quase todas as regiões do Rio Grande do Norte.
Numa visita que fiz a Currais Novos, recentemente, tomei conhecimento da existência das famílias Limão, Zebra, Raposa, Caçote, Preá, Caboré, Calango, Pilinga e Piranha. Em Natal, há as famílias Mosca, Grilo, Carneiro, Raposo e Pinto, dentre outras. Em Apodi, segundo me informou Aurivan Pinto, há a família Jararaca que, segundo o vulgo, é muito braba e respeitadora. No alto oeste potiguar, existiria a família Cobra,mas segundo informações, é uma nominação que se tornou popular,sem registro em cartório, que, de um simples apelido, tornou-se o virtual nome familiar. Mas Piranha tem muita, mas muita mesmo, em Currais Novos/RN. Piranha, o peixe voraz, carnívoro e insaciável (come tudo, até gente) é nome de família na terra da scheelita. Família de bem, respeitadora e trabalhadora. Não confundir com outra coisa.
Voltando aos Pinto: até meados de 2013, eu não sabia que a família Pinto que chegou em Natal em meados do século 19, era oriunda da Itália e se chamava Pintoli. A fonte da informação foi o estimado amigo Edgard Ramalho Dantas, um homem culto e uma verdadeira enciclopédia ambulante. Fui pesquisar e encontrei o livro “Reminiscências”, de Octavio Pinto,neto de um imigrante Italiano, publicado no Rio de Janeiro, em 1979. Na página 24, ele relata que o seu pai “nasceu do nada, filho de um imigrante italiano da Calábria, artesão funileiro chamado José Pintoli, que o povo aportuguesou o sobrenome para Pinto e ficou até hoje. Ele tinha uma oficina na rua dos Tocos, hoje Princesa Isabel”.
Há a versão de Pintoli significava pênis de criança, haja vista que sempre as mães e cuidadoras de bebês chamarem esse órgão masculino de “pinto”, “pintinho”. Existem outros significados para a palavra pinto que a sua abordagem não cabe neste pequeno artigo.
A referência aos Caboré não é de uma família de Caicó, terra do jornalista Orlando Rodrigues, mas do “Totoró”, área próxima da cidade de Currais Novos, assim como os “Raposa” são os “Gomes”, da região  “Dos Quarenta”, lá onde o vento faz a curva para Cerro Corá, segundo me informou Tino de Góis, primo e casado com Aparecida Gomes, minha prima. Sorrindo, disse: “Gonzaga, eu sou uma Raposa”.
Mas isso é outra história.
*Luiz Gonzaga Cortez Gomes é jornalista.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

 O Ajudante da Fortaleza, Alexandre de Mello Pinto

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Em uma petição de Alexandre de Mello Pinto, do ano de 1754, ele aparece como Ajudante da Fortaleza e das Ordens do capitão-mor da capitania do Rio Grande. Foi o patriarca da família Mello Pinto, do Rio Grande do Norte. Faleceu em 1790, com a idade de 72 anos. 

No dia oito de maio de 1743, depois da meia noite, na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, da cidade do Rio Grande do Norte, com a presença do Padre Aurélio José de Mello e do Doutor Cosme de Medeiros Furtado, se casaram o Ajudante Alexandre de Mello Pinto, filho legítimo de José de Mello de Costa e de sua mulher Dona Maria do Espírito Santo, e Brázia Tavares da Fonseca, filha legítima de Luis Alves Tavares e de sua mulher Maria da Fonseca, já defuntos, naturais e moradores desta cidade.

Aos 22 de abril de 1753, era batizada Maria, filha de Alexandre e Brázia, tendo como padrinhos Nossa Senhora da Apresentação e o capitão Bernardo de Faria Freitas; Aos seis de maio de 1755, na matriz, foi batizada Anna Rosa, outra filha do casal, tendo como padrinhos o capitão Pedro Alberto de Mello e Thereza Tavares da Fonseca;  Em 1801, faleceu Maria da Fonseca, solteira, de 40 anos, e, em 1808, faleceu o padre Francisco Álvares de Mello, com 64 anos, ambos filhos de Brázia e Alexandre. 

Em um batismo de 1754, de Manoel, filho de João de Barros e Rosa Maria da Apresentação, compareceu como madrinha Josepha Maria de Jesus, filha do ajudante Alexandre de Mello Pinto. Essa mesma Josepha, é apresentada como filha natural de Brázia, em quatro de outubro de 1759, quando casou, na Matriz, com Domingos da Rocha, filho legítimo do capitão Domingos Dias e de sua mulher Antonia Borges. Ainda mais, Josepha, faleceu em 1737, com a idade de quarenta anos, isto é, ela deve ter nascido seis anos antes do casamento dos pais. Vejamos os outros filhos de Brázia e Alexandre.
Ignácia Úrsula de Mello casou em 1772 com o sargento de infantaria, José da Costa Pereira, filho do português da Ilha de São Miguel, Simão da Costa Pereira, e de Francisca Barbosa Aranha (em alguns registros, Valcácer), natural da Freguesia de Igarassu. Destacamos os seguintes filhos de Ignácia e José: Joanna, que nasceu em 1772, tendo como padrinhos João Coelho e a tia Maria da Fonseca; Elena, que nasceu em 1774, tendo como padrinhos, os avós Alexandre e Brázia; Simão, que foi homenageado como o nome do avô paterno, nasceu em 1777, tendo como padrinhos, Francisco Álvares de Mello  e Anna Rosa, seus tios; Marianna, que nasceu em 1779, e teve como padrinhos, Antonio Dias Ribeiro e a tia Maria da Fonseca; Francisco que nasceu em 1785, tendo sido batizado pelo tio, o padre Francisco Álvares de Mello, sendo padrinhos Antonio José de Sousa e Oliveira e sua mulher Joana Ferreira.

Brázia Tavares de Melo (em vários registros tem sobrenomes diferentes) casou com Luis José Rodrigues Pinheiro, filho de Francisco Pinheiro Teixeira e Bonifácia Antonia de Mello (avós de Frei Miguelinho). Desse casal destacamos os seguintes filhos: Antonio, que nasceu em 1780; Maria, que nasceu em 1785, padrinhos, o provedor da Fazenda, Antonio Carneiro de Albuquerque Gondim e Francisca Antonia Teixeira; outra Maria, que nasceu em 1787, tendo como padrinhos o capitão Manoel Pinto de Castro e a tia Maria da Fonseca; José, que nasceu em 1797, e teve como padrinhos Ignácio Nunes Correia e sua mulher Antonia Clara das Neves.

Thereza Antonia de Mello casou, em 1761, com Antonio Teixeira da Costa, filho do condestável Carlos de Freitas e de Maria da Assunção; entre seus filhos, encontramos: José, que nasceu em 1763, padrinhos o sargento-mor Francisco Machado de Oliveira Barros, casado, e Ignácia Úrsula de Mello, solteira; Joachim, que nasceu em 1765, padrinhos, o avô Alexandre de Mello Pinto e Thereza Tavares da Fonseca, solteira; Ignez, que nasceu em 1777,  padrinhos, o provedor da Fazenda Real, Antonio Carneiro de Albuquerque Gondim e Maria José, irmã da batizada; outro José, que nasceu em 1781, padrinhos, o sargento José da Costa Pereira, casado, e Thereza Tavares, solteira. Essa Maria José, que foi madrinha da irmã Ignez, casou com Alexandre Rodrigues da Cruz, filho dos meus hexavós, Francisco Cardoso dos Santos (Tracunhaém) e Thereza Lins (Seridó).

Alexandre de Mello Pinto, filho de Thereza Antonia de Mello e Antonio Teixeira, que nasceu aos 26 de maio de 1769, teve como padrinhos o padre Francisco Manoel Maciel, e Ignácia Úrsula de Mello, solteira. Ele, que recebeu o nome do avô, era tenente de tropa paga, quando casou, em 26 de novembro de 1803, com sua parenta de 3º grau, Josefa Maria da Rocha, filha de José Pereira da Freitas e Maria da Conceição Espínola, tendo como testemunhas Francisco Felipe da Fonseca e o padre Simão Judas Tadeu. Alexandre faleceu, em 22 de abril de 1813, com a idade de 44 anos. Dos filhos de Alexandre e Josefa, encontramos os seguintes:

José Cupertino de Mello Pinto, que casou com sua prima (2º grau), Joana Florência da Silva, filha de José Pereira de Freitas e Anna da Conceição (deve ser Maria da Conceição), na presença do capitão Salvador Maria da Trindade e Bento José Taveira, sendo celebrante o padre Salvador Maria da Trindade. Eles geraram Josefa, em 1830, que teve como padrinhos Francisco José de Carvalho e Thereza Antonia de Mello, tia; e João e Rosa, que nasceram em 1840, e tiveram como padrinhos, daquele, Manoel José Teixeira e Thereza Antonia de Mello, e desta, tenente José Fernandes Carrilho, casado, e Joana Maria da Conceição, solteira. Essa Thereza Antonia, que tinha o mesmo nome da avó paterna, era irmã de Cupertino.

Joaquim José de Mello Pinto, filho de Alexandre e Josefa, já apresentamos antes e foi bisavô do meu primo João Batista de Mello Pinto.
Casamento de Alexandre de Mello Pinto e Brázia Tavares da Fonseca


segunda-feira, 2 de junho de 2014

O JORNALISTA DESTEMIDO



ELOY DE SOUZA

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Nascido no Recife aos 4 de Março de 1897 e falecido em Natal em 7 de Outubro de 1959.

Adquiriu fama imorredoira entre os colegas de Imprensa, pelo fato de ditar duas ou três matérias, simultaneamente. Habituou-se, desde cedo, ao raciocínio rápido, inspira­do pelo cheiro da tinta e do tilintar dos tipos, que ao seu tempo, eram agrupados um a um, na cachêta, para fazer a composição da matéria jornalística, como as letras na formação dos nomes, a encher as páginas do jornal desses minúsculos caracteres linguísticos silábicos...

Que ele ditava duas ou três matérias a um só tempo, confirmou-me o emérito Advogado Raimundo Nonato Fernandes, que há esse tempo, trabalhando n "A Repúbli­ca", servia-lhe como datilógrafo. O doutor Raimundo digitou, para ele, todo o livro "Calvário das Secas", dentre outros trabalhos do jornal. E que, ao ditar, fazia-o, andando em volta, e parando; às vezes, perguntava: "Está certo o que eu disse? (...) "Está bom isso? ..."Fazia-o segurando os suspensórios.

Dê-le diz-se, também, que certa vez, ditando um libelo contra um adversário polí­tico, sendo interrompido com a notícia de que aquele opositor havia aderido ao Partido Popular; ele, ante os olhares interrogativos, disse: "vírgula, assim proclamam os seus inimigos..." e continuou a sua matéria jornalística, fazendo a apologia do novo correligio­nário.

Muitos os comentários de suas artimanhas e proezas jornalísticas e ditos espiritu­osos e inteligentes. Se há exagero nos elogios ao seu talento, no fundo fica alguma coisa de verossímil. Fato é que o seu nome, no oficio, havia virado legenda.

À unanimidade dos que fazem a imprensa escrita, Eloy de Souza foi escolhido o mais autêntico jornalista da gleba potiguar, de todos os tempos.

Por tal razão, quando foi criada a Associação dos Jornalistas do Rio Grande do Norte, pelo seu idealizador João Medeiros Filho, Eloy de Souza foi escolhido seu Presidente de Honra. Para se chegar a esse consenso pressupõe-se um julgamento espontâneo diante do seu estilo inconfundível, objetivo, substantivado, ornado de ideias claras e a imaginação vivaz, ao relatar os fatos com memória fiel. A excelência da sua condição de literato muito o ajudou nas lides da imprensa. Pois todos sabem ser o jornalismo um dos mais elevados géneros da litera­tura.

Em matéria de jornal tudo conhecia e utilizava caso houvesse necessidade; o editorial conciso, o artigo bem esplanado, o suelto sumariado, a forma clara e eloquente da notícia, o rodapé, o registro, a nota panfletária, a polêmica política ou literária, as manchetes, a administração do jornal, as artimanhas jornalísticas... pois o jornal é tal a figura mitológica de Argos - tem cem olhos - e outros ofícios...

Em matéria de imprensa era ele mestre consumado.

A partir da juventude a sua inclinação natural pelo jornal e pela política. Nesta, para ajudar ao amigo e líder Pedro Velho, que também inteligente, via em Eloy de Souza o intelectual que ele precisava para alavancar o seu projeto político.

Declarou Otto Guerra, em discurso na Academia de Letras, que Pedro Velho a ele dissera: "Acabe logo com a sua Bacharelice em Recife e volte". E acrescentou o líder religioso, que por este apelo do Amigo, Eloy se diplomou apenas em Ciências Sociais. É que o Diploma da Faculdade de Direito do Recife confere ao formado o Título de Bacha­rel em Ciências Jurídicas e Sociais, e não somente em Direito.

Eloy de Souza fora atraído pela sedução jornalística por uma vocação nata, por gostar do ofício e ter a devida competência para exercê-la com a criteriosa sabedoria, usando a pena de ouro, o seu cálamo sagrado.

Foi um político de caráter, como raro se vê nos dias presentes. Forjou a moral política desde a legislatura estadual, chegando a renunciar um mandato em pleno exer­cício, por imposição da sua consciência. Eloquente a sua atuação como legislador, coadjuvado que foi, pelas qualidades congénitas - honra, caráter e inteligência; e as adquiridas - trabalho, competência e sociabilidade.

A imprensa, pelo alto poder de persuasão, serviu-lhe de poderoso fulcro à ação política; a par o seu generoso coração, que jamais o deixou inativo frente às necessida­des do seu pobre Estado e da sua pobre gente.

Marcou a sua atividade com o combate às Secas, principalmente, cujos efeitos danosos sacrificava a gente sertaneja. Cuidou, outrossim, da incipiente agricultura a braços com a monocultura algodoeira da época.

Tanto quanto jornalista autêntico e criterioso político, exíbiu-se, ainda, como bri­lhante intelectual. Pertenceu a várias das nossas instituições culturais, tendo sido Sócio fundador da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, mesmo não sendo potiguar. Os Estatutos à época, vedavam a entrada aos que não fossem rio-grandenses do norte por nascen­ça. Exceções foram feitas a ele, ao Padre Luiz Monte, pernambucano, também, e ao paraense Floriano Cavalcanti, em virtude de suas notórias culturas.

Eloy de Souza dirigiu a Imprensa Oficial, alto e cobiçado cargo da época, dirigiu também o jornal "A Razão" e a Caixa Económica Federal.

No Governo Aluízio Alves, o Governador, conhecedor de perto dos seus méritos incontestáveis, como jornalista, deu o seu nome digno à Faculdade de Jornalismo da Fundação "José Augusto", transformada, depois, no Curso de Jornalismo da nossa Universidade Federal.

Deixou algumas obras da melhor qualidade intelectual e considerável acervo de matéria jornalística espalhado pelas mil e uma páginas dos nossos principais periódi­cos, além de temas literários, políticos e económicos.

Usou pseudônimo, costume da época: Jacyntho Canella de Ferro.

Dentre outros livros escreveu "Cartas de um Desconhecido"; "Calvário das Se­cas" e "Cartas de um Sertanejo".

O seu augusto nome tem sido citado por políticos, jornalistas e intelectuais pelo seu trabalho edificante, como legislador e incansável porfiador no tumultuado ambiente da imprensa e da cultura.

Foi um político e um jornalista destemido. Por tal, sofreu Deportação da sua terra, no Governo Bertino Dutra.

Tendo em vista os consideranda supraditos e o talento tridimensional em dominar áreas polémicas de nossa sociedade - a imprensa, a cultura e a política -, enxerga-se em Eloy Castriciano de Souza um dos intelectuais mais inteligentes e hábeis do Rio Grande do Norte.