segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O segredo de uma boa vida.

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                         Texto sábio de um geriatra
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Estamos envelhecendo.  Não nos preocupemos!  De que adianta, é assim mesmo.  Isso é um processo natural.  É uma lei do Universo conhecida como a 2ª Lei da Termodinâmica ou Lei da Entropia.  Essa lei diz que:  “A energia de um corpo tende a se degenerar e com isso a desordem do sistema aumenta”.  Portanto, tudo que foi composto será decomposto, tudo que foi construído será destruído, tudo foi feito para acabar.  Como fazemos parte do universo, essa lei também opera em nós.  Com o tempo, os membros se enfraquecem, os sentidos se embotam.  Sendo assim, relaxe e aproveite.  Parafraseando Freud:  “A morte é o alvo de tudo que vive”.  Se você deixar o seu carro no alto de uma montanha, daqui a 10 anos ele estará todo carcomido.  O mesmo acontece a nós.  O conselho é:  Viva.  Faça apenas isso.  Preocupe-se com um dia de cada vez.  Como disse um dos meus amigos a sua esposa: “me use, estou acabando!”.  Hilário, porém realista.

Ficar velho e cheio de rugas é natural.  Não queira ser jovem novamente, você já foi.  Pare de evocar lembranças de romances mortos, vai se ferir com a dor que a si próprio inflige.  Já viveu essa fase, reconcilie-se com a sua situação e permita que o passado se torne passado.Abrace a Vida .Está vivo, procure um Amor e seja feliz com ele.Desfrute o Presente.  Esse é o pré-requisito da felicidade.  “O passado é lenha calcinada.  O futuro é o tempo que nos resta: finito, porém incerto”  como já dizia Cícero.

Abra a mão daquela beleza exuberante, da memória infalível, da ausência da barriguinha, da vasta cabeleira e do alto desempenho, pra não se tornar caricatura de si mesmo.  Fazendo isso ganhará qualidade de vida.  Querer reconquistar esse passado seria um retrocesso e o preço a ser pago será muito elevado.  Serão muitas plásticas, muitos riscos e mesmo assim você verá que não ficou como outrora.  A flor da idade ficou no pó da estrada.  Então, para que se preocupar?!  Guarda os bisturis e toca a vida.

Você sabe quem enche os consultórios dos cirurgiões plásticos?  Os bonitos.  Você nunca me verá por lá.  Para o bonito, cada ruga que aparece é uma tragédia, para o feio ela é até bem vinda, quem sabe pode melhorar, ele ainda alimenta uma esperança.  Os feios são mais felizes, mais despreocupados com a beleza, na verdade ela nunca lhes fez falta, utilizaram-se de outros atributos e recursos.  Inclusive tem uns que melhoram na medida em que envelhecem.  Para que se preocupar com as rugas, você demorou tanto para tê-las!  Suas memórias estão salvas nelas.  Não seja obcecado pelas aparências, livre-se das coisas superficiais.  O negócio é zombar do corpo disforme e dos membros enfraquecidos.

Essa resistência em aceitar as leis da natureza acaba espalhando sofrimento por todos os cantos.  Advêm consequências desastrosas quando se busca a mocidade eterna, as infinitas paixões, os prazeres sutis e secretos, as loucas alegrias e os desenfreados prazeres. Isso se transforma numa dor que você não tem como aliviar e condena à ruína sua própria alma.  Discreto, sem barulho ou alarde, aceite as imposições da natureza e viva a sua fase.  Sofrer é tentar resgatar algo que deveria ter vivido e não viveu.  Se não viveu na fase devida, o melhor a fazer é esquecer.

A causa do sofrimento está no apego, está em querer que dure o que não foi feito para durar.  É viver uma fase que não é mais sua.  Tente controlar essas emoções destrutivas e os impulsos mais sombrios.  Isso pode sufocar a vida e esvaziá-la de sentido.  Não dê ouvidos a isso, temos a tentação de enfrentar crises sem o menor fundamento.  Sua mente estará sempre em conflito se ela se sentir insegura.  A vida é o que importa.  Concentre-se nisso.  A sabedoria consiste em aceitar nossos limites.

Você não tem de experimentar todas as coisas, passar por todas as estradas e conhecer todas as cidades.  Isso é loucura, é exagero.  Faça o que pode ser feito com o que está disponível.  Quer um conselho?  Esqueça.  Para o seu bem, esqueça o que passou.  Tem tantas coisas interessantes para se viver na fase em que está.  Coisas do passado não te pertencem mais.  Se você tem esposa e filhos, experimente vivenciar algo que ainda não viveram juntos, faça a festa, celebre a vida, agora você tem mais tempo, aproveite essa disponibilidade e desfrute.  Aceitando ou não, o processo vai continuar.  Assuma viver com dignidade e nobreza a partir de agora.  Nada nos pertence.

Tive um aluno com 60 anos de idade que nunca havia saído de Belo Horizonte.  Não posso dizer que, pelo fato de conhecer grande parte do Brasil, sou mais feliz que ele.  Muito pelo contrário, parecia exatamente o oposto.  O que importa é o que está dentro de nós, a velha máxima continua atual como nunca: “quem tem muito dentro precisa ter pouco fora”.
Esse é o segredo de uma boa vida.
 

domingo, 11 de setembro de 2016

sábado, 10 de setembro de 2016

A filha natural de João Rodrigues da Costa Junior, 1844

Por João Felipe da Trindade
jfhipotenusa@gmail.com

Aos dois de setembro de 1844, lanço neste livro de assentos dos batismos que serve nesta Matriz de São João Batista de Assú, o assento de batismo de Francisca, parda, filha natural de João Rodrigues da Costa Junior com Marcelina, escrava de João Batista da Costa, já lançado em outro livro dos batizados de folha cento e oitenta e nove, com sentido do despacho abaixo declarado e é da maneira seguinte: 
Ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor - Diz João Rodrigues da Costa Junior, solteiro, morador no lugar de Piató desta Freguesia de São João Batista de Assú, que ele tivera de Marcelina, escrava de seu mano João Batista, uma filha de nome Francisca a qual tomou e tem tido em sua companhia desde de sua tenra idade como sua filha que é, e por que fosse batizada nesta Matriz sem declaração de quem era seu pai, por isso requer a  Vossa Senhoria a mande de novo lançar para que em todo tempo haja de constar o de devido = Chama-se Francisca, nascida a 28 de janeiro de 1830, batizada nesta Matriz pelo Padre Joaquim José de Santa Ana; foram seus padrinhos Miguel, escravo do tenente João Rodrigues da Costa e Thereza, escrava de João de Barros de Oliveira, declarando igualmente ser filha natural do suplicante, portanto = Pede ao Reverendo Senhor Vigário Interino da Vara mande lançar o novo assento com a declaração que requer = Sim = Vila da Princesa 2 de setembro de 1844 = Montenegro = 
Francisca, parda, filha natural de João Rodrigues da Costa Junior com Marcelina escrava de João Batista da Costa, nascida a 28 de janeiro de 1830, foi batizada a vinte e um de fevereiro do dito ano por mim e lhe conferi os sagrados óleos; foram padrinhos Miguel, escravo do tenente João Rodrigues da Costa e Thereza, escrava de João de Barros de Oliveira, todos deste Assú, e para constar fiz este assento em que me assino, o Padre Joaquim José de Santa Ana = Pároco do Assú = e para constar a todo tempo, fiz este assento em que me assino = Padre Francisco Urbano de Albuquerque, Vigário interino de Assú.

Outros novos batismos foram lançados a pedido dos pais de filhos naturais, que transcrevemos para aqui.

João, filho natural de José Duarte de Azevedo, e Benta Maria, nasceu aos 2 de novembro de 1832, e foi batizada no dia 7 do mesmo mês e ano, pelo Reverendo Joaquim José de Santa Ana, e lhe pôs os santos óleos; foram padrinhos João de Barros de Oliveira e Nossa Senhora da Conceição, e por me ser pedido pelo pai do adulto, por um requerimento, fiz este novo lançamento, que torna sem nenhum, efeito outro qualquer que apareça, e para clareza me assino. José Ferreira Nobre Formiga, Vigário do Assú.

Josefa, filha natural de João Maurício Pimentel, e Ana Monteiro, nasceu aos 17 de setembro de 1809, e foi batizada nesta Matriz pelo Reverendo Vigário Antonio de Souza Monteiro, a dez de novembro do mesmo ano, e lhe pôs os santos óleos, foram padrinhos Alexandre de Souza Castro, casado, e Aldonsa Maria, solteira, e por me ser pedido a requerimento do mencionado João Maurício Pimentel, fiz este novo lançamento que torna sem nenhum efeito outro qualquer lançamento que aparecer possa, e para constar mandei fazer este assento em que me assinei. José Ferreira Nobre Formiga, Vigário do Assú.


Vendendo em francês na feira de Caicó.

Por Ciduca Barros*
Nada marca tanto a nossa vida quanto o nosso passado estudantil. Os anos que passamos nos bancos escolares, além de ficarem indelevelmente em nossas lembranças, ainda nos fazem relembrar dos tipos pitorescos que foram nossos colegas de escola.
Não conheço ninguém que não tenha uma (ou mais) história jocosa do seu tempo de estudante.
Dos muitos causos que guardei, do nosso querido Ginásio Diocesano Seridoense (GDS), de Caicó (RN), eis aqui um deles.
No ano de 1955, oriunda do Curso de Admissão, nossa turma foi cursar a primeira série do Curso Ginasial, quando fomos apresentados à Língua Francesa.
O nome de batismo dele era Manoel, que, nas primeiras aulas, se encantou perdidamente por aquela bela língua falada na distante Europa.
Como muitos de nós, ele era uma pessoa de família humilde e seu pai tinha uma banca de frutas na feira livre de Caicó, onde, aos sábados, ele o ajudava nas suas lides.
E foi naquela banca de feira onde tudo aconteceu. Conta a lenda que, já no primeiro sábado de março de 1955 (dia da feira livre de Caicó), após uma semana de aulas de Francês, o nosso colega já quis demonstrar para a clientela do seu pai que ele já começava a dominar aquele idioma românico.
E num pregão que ele, normalmente, anunciava na nossa língua pátria (e em seridoês), estava sendo gritado assim:
Les banês, quem vai querrê, quinhentôs rês! (¹)
Daí, então, até a sua prematura morte, o seu apelido passou a ser “Manoel Le Banê”.
(¹) Tradução: Bananas, quem vai querer, quinhentos réis.
*Escritor, funcionário aposentado do Banco do Brasil / com post na página Bar de Ferreirinha.


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Postado por AssessoRN - Jornalista Bosco Araújo no AssessoRN.com em 9/11/2016 10:01:00 AM

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Um grito de morte na parada da independência



08:35 (Há 5 minutos)



Por João Bosco de Araújo*
Jornalista boscoaraujo@assessorn.com  
Foto acervo caicoense Criva Coelho. Banda do CDS nos desfile cívico
A parada do desfile de 7 de Setembro transcorrera como nos anos anteriores, mas o ano de 1969 fora diferente porque foi nesse ano meu primeiro desfile formado pelos alunos do então Ginásio Estadual Joaquim Apolinar (GEJA), também foi o derradeiro, diante da ordem de dispensa nos anos seguintes. O fato é que encerrada a programação cívico-militar, já passava do meio-dia, momento de apreciar o retorno das pessoas que, tradicionalmente, se reuniam nas duas calçadas da Coronel Martiniano, tendo como principal avenida do centro de Caicó.
O calor daquela manhã nos convidava a amenizar o sol debaixo da sombra do pé de fícus da casa dos meus avós maternos, colada na bodega de José Teófilo, esquina da avenida Rio Branco com rua Augusto Monteiro, a dois quarteirões do local do desfile findo. Por diversas vezes, três rapazes montados em cavalos de raça cruzavam a esquina. Ainda carregavam as fitas que simbolizaram o grito dado pelo Príncipe Regente Luso de “independência ou morte”, na beira do riacho.
Bem ali perto, estava o Barra Nova, não o Ipiranga, e por alguns instantes ouviram-se o estampido, não de liberdade, era de morte, e um corpo estendido no chão. O homem caído, já sem vida, era Manoel Chicola, alvejado por disparos de balas dentro do estabelecimento comercial de Zé Teófilo, das Oiticicas, efetuados por “Cambitinha” (Francisco Medeiros Filho) e acobertado por outro cavaleiro, bem no estilo das fitas de faroestes exibidas no São Francisco, cujo cartaz e letreiros iluminados estampavam o filme da noite no cinema em frente ao crime, na outra esquina. 
 
Não fomos testemunhas do ocorrido por questões estratégicas, suponho, do próprio autor do episódio, pelo fato da presença do grupo de jovens debaixo da árvore, ou da saia da nossa avó Luzia Tavares. Éramos, eu, minha irmã Sueli, o namorado dela, Antônio Nilson, outras irmãs Salete e Sônia, meu irmão Gilberto, nossa vizinha Nevinha, sua irmã Gracinha, filhas do comerciante José Leônidas e outras pessoas que não me recordo mais. Foi apenas o tempo suficiente de sairmos do local.
Nossa residência, parede e meia à casa de vó Luzia, estava a cerca de 10 metros dos disparos que ecoaram rua afora, estendendo casa adentro, acompanhados de um silêncio tenebroso, que após frações de segundos foi rompido pelas pisadas compassadas fortemente sobre a calçada. Sutilmente, abro uma brecha da janela e vejo passar fugindo em alta disparada “Andorinha” (Vivaldo Melo), ainda garoto, da nosso idade, filho de Chico Melo, que morava do lado direito, perto do Serrote, mas desnorteado correu no sentido oposto. Ele estava peruando dentro da bodega e o zumbido das balas o martirizou por muito tempo, contava. Por pouco não foi alvejado, dizia Teófilo, posto do outro lado do balcão a conversar com a vítima.
Nesse ínterim, após acompanhar pela fresta da janela o “velocista” Andorinha (depois, rapaz ele foi trabalhar nos Correios, vindo a falecer de enfarte ainda moço) desloco o ângulo da vista para o outro lado e vejo a cena do crime. Manoel Chicola inerte ao chão, no pé do poste, e seu filho Mauricy a retirar, imediatamente, uma faca peixeira embainhada daquelas de marchante, com mais de 12 polegadas de tamanho. Chicola era comerciante desse ramo e tinha inimizade com o pai do homicida, Chico Medeiros, ex-prefeito caicoense, por questões de politicagem, muito comum na época entre dinartistas, de bandeira vermelha, e aluizistas, do lado verde.
Antes da execução, "Cambitinha" deixara o cavalo amarrado em outro poste do lado da Rio Branco. Em frente ficavam os armazéns de Manoel Chicola, de vendas de peixes e casa de jogos. Chico Cunha, rapaz solteirão, experiente, leitor assíduo de livros de bolso, salvou a vida de Mauricy. Segundo contava, ao ouvirem os disparos, o filho de Manoel correu em direção à porta fechada, barrado por Cunha, que o empurrou com os pés, fazendo-o cair ao chão, bem ao estilo dos mocinhos do filme, acreditava.
Ora, ao abrirem a porta, viram a dupla de cavalos em disparada, na direção do rio Barra Nova e o atirador a girar o revólver entre os dedos da sua mão, narravam. Pode-se imaginar a fidelidade cinematográfica e entender que se Chico Cunha não travasse àquela porta, o alvo das balas também teria acertado o filho do morto ao procurar defender o pai tombado. 
O local do crime ficou visitado por muito tempo, para matar a curiosidade de quem queria ver de perto os buracos das balas e o sangue na parede impresso pelas mãos do baleado, ao tentar se segurar do impacto que o empurrou, cambaleando até o chão da rua.
Cenas de uma Caicó violenta, de um 7 de Setembro que parou há 40 anos. Do outro lado da história, jovens caicoenses tombaram mortos, mas por ideários de independência, alvejados pela intolerância imposta pelo medo do imperialismo internacional, sob a custódia do regime de plantão.
*Texto publicado anteriormente, nos 40 anos do fato ocorrido.
©2016 www.AssessoRN.com | Jornalista Bosco Araújo - Twitter @AssessoRN



quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Conversa aberta. Uma mensagem lida.