domingo, 27 de setembro de 2015



Os Gambeus: uma família afro-brasileira.
Luiz Gonzaga Cortez *

Muitas famílias do Rio Grande do Norte ainda se recusam a fornecer informações e documentos sobre seus familiares, sob a alegação que os seus pais, irmãos, avós, bisavós e parentes mais próximos não foram pessoas importantes na sociedade nem possuíam bens e riquezas materiais. Ledo engano. No estudo da genealogia não há discriminação social e econômica, mas há brasileiros que alegam que são descendentes de nobres portugueses e espanhóis porque desconhecem que a colonização do Brasil não foi realizada por famílias oriundas da nobreza lusitana. Se a nobreza de Portugal estava bem de vida porque iria exportar seus familiares para a aventura de viver nas florestas tropicais? O povão foi que veio para cá, pegar no pesado, enfrentar os arcos e flechas dos indígenas.
Por isso, resolvi dar prosseguimento a uma pesquisa iniciada no século passado, em Upanema/RN, sobre a família Gambeu, pouco conhecida na genealogia potiguar. Há um motivo particular: o meu avô materno Manoel Marcolino da Silva, era filho de Emiliano Gambeu da Silva e Maria Gomes da Silva, falecida em 11 de março de 1983, no Rio de Janeiro/RJ.
Viajei com a minha falecida irmã Carmela, em 11 de julho de 1997, para conferir as informações de que membros da família de Emiliano Gambeu residiam em Upanema que, segundo o Sr. Teodoro Saraiva de Moura, teria falecido em fins dos anos 30. Os primeiros  contactos para localizar pessoas da família do pai de Maria Natividade Cortez Gomes, nossa mãe,  foram realizados no dia seguinte, 12, com o auxílio do Sr. João Lopes, irmão de um ex-prefeito de Upanema. Conhecemos uma rua da periferia da cidade, com mais de 30 casas, cujos moradores eram Gambeu. Numa delas,  conhecemos o Sr. Teodoro e anciã Mônica Gambeu, já com 84 anos e sobrinha de Emiliano Gambeu, mas nada falou porque estava doente. Também conhecemos o ambulante Reginaldo Pereira da Silva, 29, solteiro, residente na rua Antonio Vitorino, s/n, filho de Vicente José da Silva, conhecido por Vicente Gambeu, e Jacinta Pereira da Silva, residentes em Jucurutu/RN.
Reginaldo disse que o seu avô paterno chamava-se João Gambeu da Silva, sobrinho de Emiliano Gambeu da Silva. O operário Sebastião José Gambeu da Silva, 32, solteiro, dois filhos, disse que o seu pai chamava-se José e era filho de Manoel Gambeu, sobrinho de Emiliano. Os dois informantes disseram que houve dois Manoel Gambeu, sendo que um deles morou vários anos em Mossoró, onde deixou 14 filhos. Há informações de que os irmãos do nosso avô materno  José (Marcolino) Ramos de Oliveira, Manoel Marcolino da Silva, Mariano, Elias e Maria Marcolino da Silva. Os irmãos Mariano, Elias e Maria residiram em Assu/RN e que Emiliano Gambeu da Silva era casado com Filipa Maria de Jesus, natural de Piató, no Assu. Delfino Leite, dos Correios do Assu, e amigo chegado de Amâncio Leite, conheceram Emiliano Gambeu e Manoel Marcolino da Silva e família. Após a checagem das informações, se fará a àrvore genealógica da família do pai de Maria Natividade Cortez Gomes (Nati Cortez). È possível? Vamos tentar.
Um ancião de 97 anos, o Sr. Teófilo da Silva, morador do Sítio Pereiro, disse que conheceu Emiliano Gambeu da Silva e suas duas irmãs, Ana e Damiana.  A coisa complica aqui, pois não tínhamos informações sobre as irmãs do avô de Nati Cortez, cujo nome de solteira era Maria Natividade da Silva, filha de Manoel Marcolino da Silva, falecido em 1916, nas proximidades de Angicos, quando viajava para Mossoró. Faleceu com 22 anos e era soldado do Batalhão de Segurança do Estado (Polícia Militar do RN) e serviu no antigo quartel da rua da Conceição, centro de Natal.
Um bisneto no sítio.
O agricultor João Gambeu, dono do Sítio Pereiro, a quatro quilômetros ao sul da cidade de Upanema, estava com 66 anos de idade, quando foi abordado sobre a família Gambeu, afirmou que era bisneto de Emiliano Gambeu. A conversa foi rápida e, em virtude da hora, 12 horas e o calor, não aceitamos o convite do Sr. João para o almoço no sítio. Tínhamos outro compromisso naquela tarde, em Mossoró. “Então, apareçam  novamente para a gente botar essas coisas em dia”, despediu-se o surpreso dono do sítio Pereiro. O retorno prometido não foi realizado, por motivos alheios a nossa vontade. Haverá outra incursão genealógica na família Gambeu, sobrenome provavelmente oriundo de Gâmbia, país africano de onde vieram negros escravos para o Brasil Colônia. Upanema, região desmembrada do município de Campo Grande, fica a 230 quilômetros de Natal. Entre os Gambeus do Rio Grande do Norte, há pardos, negros e brancos, resultado da miscinegação, segundo informações colhidas em Upanema, em 18 de junho de 2016. 

*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.
Sócio do Instituto Norteriograndense de Genealogia.


 Foto de 1997 - Upanema - Carmela com dois da família Gambeu.