sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Manoel José Martins, o tutor




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Alguns construtores da História do Rio Grande do Norte, muitas vezes, não têm seus nomes escritos nos livros do presente. Não são lembrados nem pelos seus parentes que sobrevivem hoje. Se não foram militares, escritores, políticos e não exerceram atividade mais significativa ficam esquecidos para sempre. 

Manoel José Martins nasceu em Macau, como podemos ver do registro a seguir: Manoel, branco, filho natural de José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres, moradores nesta Freguesia, nasceu aos dezenove de abril de mil oitocentos e trinta, e foi solenemente batizado, com os Santos Óleos, aos vinte e um de maio do mesmo ano, em Macau, pelo Reverendo José Beraldo de Carvalho, de minha licença, o qual (José Martins) disse em minha presença reconhecia o dito párvulo por seu filho, e me pediu fizesse essa declaração para todo tempo constar, foram padrinhos o capitão Silvério Martins de Oliveira e sua mulher Joanna Nepomucena; do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade assino. O Vigário João Theotônio de Souza e Silva.

Esse registro acima é o primeiro de quatro, dispostos continuamente, onde José Martins Ferreira faz o reconhecimento dos filhos: Manoel, José, Josefa e Joaquim.

Encontramos Manoel com vários sobrenomes: Manoel José Martins, Manoel José Martins Ferreira, Manoel Martins Ferreira. Em 1847, já em Cacimbas de Viana, ainda solteiro, ele foi padrinho, junto com Josepha Clara Martins, de Justino, filho legítimo de Bartholomeu P. da Silva e Izabel Maria da Conceição. Em 1857, ambos casados, Manoel José Martins Ferreira e Josepha Clara Martins foram padrinhos de Manoel, filho legítimo de João Alves Martins e Anna Maria de Jesus. Esse João Alves Martins, que quando casou tinha o nome de João Martins Ferreira, era irmão de Manoel José Martins, embora não aparecesse na lista dos reconhecidos pelo pai José Martins Ferreira.

Vejamos seu casamento: Aos vinte e oito de novembro de mil oitocentos e cinquenta, pelas 4 horas da tarde, na fazenda das Cacimbas de Vianna, na Freguesia do Assú, foram unidos e abençoados em matrimônio, de minha licença, pelo Reverendo Silvério Bezerra de Menezes, os contraentes, meus fregueses, Manoel Martins Ferreira, e Prudência Maria Teixeira, brancos, servatis ex more servandis: foram testemunhas José Martins Ferreira e João Gomes Carneiro: do que faço este assento em que assino. Felis Alves de Souza, Vigário Colado de Angicos.

Nesse registro não aparecem os nomes dos pais dos nubentes. Acredito que essa Prudência era filha de Francisco Antonio Teixeira de Sousa e Marianna Lopes Viegas, pois no inventario desta última, do ano de 1839, aparece uma filha do casal, com a idade de seis anos, com esse nome. Os Teixeira de Sousa tinham fazendas em Cacimbas de Vianna. No ano de 1853, Manoel José Martins e João Lins Teixeira de Souza (irmão de Prudência), foram testemunhas do casamento de escravos de João Teixeira de Souza e de João Gomes Carneiro (casado com Anna Joaquina Teixeira de Souza).
Não encontrei um registro sequer de filhos do casal Manoel José e Prudência. Acho que eles não tiveram filhos e, talvez, isso foi determinante para Manoel José assumir a tutoria dos filhos de seu irmão José Alves Martins, assassinado em 1871. Eram nove, tendo o mais velho a idade de 18 anos e o mais moço, 4 anos. 

No inventário acima podemos observar o zelo que Manoel José Martins teve, prestando contas periodicamente do mesmo. À medida que os herdeiros ganhavam o direito da herança ela era repassada aos mesmos, sem nenhuma contestação, sendo o último a receber o caçula Manoel Alves Martins.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A família Alves, que já deu tantos políticos, inclusive, senadores, governadores e ministros, veio da região de Macau. Veja o batismo de José Alves Martins, bisavô de Aluízio Alves, incluso no artigo.​

sábado, 17 de janeiro de 2015

Senador, os Alves vieram de Macau




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
No velório da escritora Ana Maria Cascudo Barreto, estávamos em uma roda de amigos, quando Severino Vicente provocou o Senador Garibaldi Alves: João Felipe diz que os Alves vieram de Macau. Garibaldi, então, falou: mas não foi de Angicos?
Comecei a responder, mas a chegada contínua de pessoas impediu a complementação do assunto. Por isso, dou continuidade àquela conversa interrompida, neste artigo, embora já tenha tratado desse assunto em outros artigos.
Em 1810, administrava a Ilha de Manoel Gonçalves, pião de várias terras da região do Assú, José Álvares Lessa. Em 1818, o português e morador da Ilha de Manoel Gonçalves, João Martins Ferreira escrevia para o governador da província, José Ignácio Borges dando notícia da invasão da dita ilha por corsários ingleses. Era casado com Josefa Clara Lessa, possivelmente, filha de José Álvares Lessa. Em 1823, capitão, encontramos João Martins Ferreira como testemunha ou padrinhos em várias localidades do Assú.
A invasão contínua das águas oceânicas sobre a Ilha foi obrigando seus moradores a se deslocaram para outras localidades, sendo a preferência maior pela então Ilha de Macau, ainda sem habitantes, tendo somente, por lá, alguns práticos. Na lista dos primeiros habitantes de Macau aparecem o capitão João Martins Ferreira, seu filho major José Martins Ferreira e mais quatro genros, segundo a tradição oral.
No período que vai de 1830 até 1834, encontramos os batismos de quatro filhos do major José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres. Nesses registros, onde esses filhos têm seus registros um atrás do outro, por se tratar de reconhecimento de paternidade, consta que eles foram batizados em Macau, embora em outros registros, encontrados isoladamente, as localidades de alguns batismos sejam diferentes. No caso de José Alves Martins, o segundo filho dessa lista, ele foi batizado em Guamaré.
Pois bem, José Alves Martins, casou com Francisca Martins de Oliveira, no dia 27 de novembro de 1852, em Curralinho. Não havia informações dos pais dos nubentes. Em uma das mensagens de um Presidente desta província do Rio Grande do Norte, vamos encontrar a notícia do assassinato dele, em 1871, na povoação de Rosário, por um sócio, João Rodrigues Ferreira.
Em uma das minhas viagens a cidade do Assú, encontrei, no Fórum João Celso da Silveira Filho, o inventário do falecido, tendo como inventariante, e ao mesmo tempo tutor dos filhos órfãos, seu irmão mais velho, Manoel José Martins, ambos inventariante e inventariado moradores em Cacimbas do Viana.
Na relação desses filhos constavam: José Alves Martins (Jr.), 18 anos; João Alves Martins, 13; Francisco Alves Martins, 12; Joaquim Alves Martins, 11; Militão Alves Martins, 10; Josefina Emília Alves Martins, 8; Delfino Alves Martins, 7; Maria, 5; e o caçula Manoel Alves Martins, com 4 anos de idade.
Em 10 de janeiro de 1879, Dona Josefina Emília casou com Absalão Fernandes da Silva Bacilon, natural de Santana do Matos.  Esse casal gerou Dona Maria Fernandes (D. Liquinha) e Dona Jesuína, que casaram, respectivamente, com Manoel Alves Filho e Jose Fernandes Silva.
Manoel Alves Martins, o mais novo de todos os filhos do José Alves Martins, em 1888, foi emancipado por completar 21 anos. Casou, primeiramente, com Joaquina Teixeira Martins, nascendo desse casamento, aos 2 de dezembro de 1890, um único filho, Manoel Alves Martins Filho. Enviuvando, casou com Maria Ignácia da Conceição. Desse casamento, nasceram vários filhos, entre eles Manoel Alves Filho, aos 10 de agosto de 1894, que casou com sua prima legítima Maria Fernandes (D. Liquinha). Martins desapareceu do sobrenome dos descendentes.
O percurso, portanto, da família Alves, aqui no Rio Grande do Norte, foi Ilha de Manoel Gonçalves, em seguida Macau, depois Cacimbas do Viana (Porto do Mangue), Santana do Matos, e, finalmente, a mais conhecida, Angicos. Os Fernandes (aqui desapareceram os sobrenomes Alves e Martins) onde a maior estrela foi Aristófanes, filho de Jose Fernandes da Silva e Jesuína Fernandes, permaneceram em Santana do Matos.
Inicialmente, alguns dos filhos do major José Martins Ferreira se assinavam como Martins Ferreira, mas com a chegada de outros filhos, com o mesmo nome, do seu segundo casamento com Josefina Maria Ferreira, foi introduzido o sobrenome Alves, que talvez seja originário de José Álvares Lessa, português de Leça da Palmeira, e antigo administrador da Ilha de Manoel Gonçalves.

Batismo de José Alves Martins

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Revolta do Juazeiro, chefiada pelo padre politiqueiro Cícero Romão Batista.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O marechal e o padre, 1914




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

No jornal “A Época”, de 3 de janeiro de 1914, digitalizado pelo Hemeroteca Nacional, há uma matéria com o título: Fracassou o projeto de acordo entre aciolistas e rabelistas para normalizar o Ceará. Nessa matéria, teremos oportunidade de conhecer melhor o marechal Hermes, que apoiou a sedição de Juazeiro, chefiada pelo padre Cícero, uma das páginas mais vergonhosas da república brasileira. Está escrito lá:

Ontem, à tarde, quando tumultuosamente palpitava a multidão na expectativa ansiosa de rever e aplaudir essa inconfundível e arrojada figura de Santos Dumont, palestravam, à porta do cinema Avenida, dois nortistas, que exercem influência  na política  dos respectivos Estados.
Um deles, rabelista ardoroso, relatava ao seu companheiro, adversáriocuragé(?) da oligarquia norte-riograndense, o insucesso das negociações propostas pelo marechal Hermes, no sentido de ser obtida a pacificação do Ceará.

- O fracasso do acordo que se pretendia realizar, ou melhor, que o marechal patrocinava, como advogado da facção oposicionista, é um fato. O Moreira da Rocha, como representante de Franco Rabello, assegurava a anistia aos rebeldes, caso eles depusessem as armas, sendo condição indispensável ao cumprimento dessa medida, a retirada dos Drs. Lavor e Floro Bartholomeu, de Juazeiro, onde as suas presenças determinariam de futuro, a reprodução dos acontecimentos, que se estão desenrolando naquela região.

Como se vê, as condições propostas pelo Franco Rabello são as mais aceitáveis, e, se, realmente, houvesse, por parte do marechal, o desejo sincero de fazer cessar a luta fratricida, nenhum outro meio melhor do que esse se lhe antolharia.

- E que respondeu o marechal ao Moreira da Rocha? – atalhou o interlocutor.

- A princípio, teve evasivas, terminando, porém, por dar a entender claramente ao representante cearense, que os rebeldes não aceitariam, de modo algum, a proposta  do Sr. Franco Rabello. Pretendiam eles muito mais do que lhes oferecia, isto é, aspiravam ascender aos cargos públicos e ver admitida a sua influencia na política estadual.

O Moreira da Rocha teve, então, um momento de desânimo, mas refazendo-se logo, propôs ao marechal, que o observava com o olhar perquiridor:

- V. Ex. poderia, neste caso, telegrafar ao padre Cícero, salientando a sua reprovação ao movimento de rebeldia que ele se fez chefe, o que, estou certo, determinaria uma profunda modificação na sua conduta.

O marechal, como resposta, teve um largo gesto teatral que acompanhou de uma frase mais ou menos equivalente a esta:

- Não! Eu não me posso corresponder com o padre Cícero!

- Mas V. Ex., por ocasião da campanha eleitoral no Rio Grande do Norte, telegrafou ao capitão J.da Penha, procurando demovê-lo da luta.

- Fi-lo, mas, naquele caso, tratava-se de um companheiro de armas, com um nome e uma reputação respeitáveis, com quem eu me podia corresponder sem desdouro, e não um bandido como o padre Cícero.

Antes essa recusa formal, o Moreira da Rocha deu por terminada a sua missão e retirou-se.
Continuou, então, o autor da matéria do jornal “A Época”.

Afora a barretada ridícula e extemporaneamente feita ao ardoroso republicano capitão J. da Penha, tudo mais que Sua Ex. disse ao Sr. Moreira da Rocha, demonstra de modo patente, muito embora as afirmações em contrário, que S. Ex. se mantém irredutível ao lado dos rebeldes de Juazeiro e veria de muito bom grado a realização dos seus intuitos de deposição do governador.

É irrisória a declaração do marechal de que não pode corresponder-se com um bandido como o padre Cícero, quando nós vemos S. Ex., a servir de mediador entre duas facções em luta, uma das quais precisamente constituída pelos amigos e companheiros do famigerado sacerdote a quem S. Ex. tão pejorativamente se referiu.

E como o marechal não está disposto a descer do alto de sua dignidade para telegrafar ao bandoleiro “ousado”, que lhe manda diariamente notícias suas, o Ceará continuará mergulhado em sangue, até que o Sr. Franco Rabello jugule de vez o movimento e castigue os culpados com o merecido rigor.

No dia 22, do mês seguinte a essa matéria, era assassinado em Miguel Calmon, por um jagunço do grupo apoiado pelo governo federal, o capitão tão elogiado pelo marechal. Como se sentiu o Presidente da República, nessa hora, com a morte do seu colega de armas?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A saudade que se faz sertão...

Fátima Arruda*

Foto de acervo
Há um ano, o Seridó recebia Moacy Cirne de volta às suas raízes. Como companheira desse seridoense, que reverberava a caatinga com suas terras áridas por onde andou, resgato hoje a memória do sertão, que simboliza esse retorno às suas origens. Ainda jovem, ao deixar as terras nordestinas, levou consigo a essência do que tinha sido a sua infância no sertão, o que norteou suas inspirações, sua irreverência e inquietude ao longo de todas as andanças existenciais.

Hoje optei por ouvir Luiz Gonzaga, rasgando com sua voz sertaneja esse nosso céu tão límpido de verão, em duas de suas canções, que em muitas de nossas viagens vivenciais tanto nos emocionou, por serem tão intensas, tão verdadeiras. Ao ouvi-las neste momento, sinto de forma mais intensa a dor e a angústia que Gonzagão conseguiu expressar através de ambas, e que por isso, tão bem rememoram a lacuna deixada por Moacy entre nós - Légua Tirana e a Morte do Vaqueiro.

E por que Légua Tirana? Porque trata da distância no espaço vivencial, no tempo existencial, seja qual for a distância da qual queiramos nos queixar. Para muitos de nós, essa distância se tornou pra lá de tirana porque sem esse cabra da peste, se fez infinita.

E por que A Morte do Vaqueiro? Porque nos diz de um homem corajoso que se vai, no seu caminho solitário – o caminho de volta à terra mater. Morre esse nordestino sem deixar tostão, sem levar consigo seu matulão, mas deixa um legado literário e afetivo que a voracidade do tempo não há de apagar.

Não a toa, havia em suas auroras vivenciais uma “leitura crítico-afetivo-libertinária do que era, do que fazia, do que sentia”; por isso, “era feliz e sabia”.

Hoje, continua a vida a nos acontecer, através de alumbramentos, auroras, crepúsculos, alegrias e dores. E através da solidão que perpassa o viver. Que continue a vida também a acontecer através do resgate dos encantamentos desse nordestino cabra da peste. Reverberemos a sempre renovada emoção de Moacy ao falar do poema processo, dos quadrinhos, do cinema e de seus diretores, do fluminense, enfim, de tantas e tantas das suas paixões. Talvez, assim, possamos encurtar essas léguas tão tiranas porque infinitas, na ausência desse poeta porreta.

Fátima Arruda, em 11/janeiro/2015

*Com post na página do Bar de Ferreirinha