segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Igreja perdoa padre Cícero Romão Batista.

   Viva ! Demorou mas chegou seu dia ! Padre Cícero e Dom Helder, o "Bispo das Multidões", serão elevados aos altares numa mesma solenidade, segundo informações extra muros!  Já pensou  poeta Cunha Lima, Padim Ciço papa?! Não teria ocorrido a 2a. Guerra Mundial! O mundo seria bem melhor e Ghandi teria visitado Juazeiro para se aconselhar junto ao Padim e Lampião, convertido, seria sacristão da catedral do Crato. 
Dezembro é o mês da solidariedade!
Francisco de Assis.


Venerado no Nordeste, Padre Cícero recebe perdão da Igreja Católica

Padre Cícero é perdoado pelo Vaticano

8 de 14
Leo Correa/Associated Press
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JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
14/12/2015 13h36 - Atualizado às 16h30
1,7 mil
Venerado em romarias que atraem mais de 2 milhões de pessoas por ano a Juazeiro do Norte (CE), o Padre Cícero Romão Batista foi perdoado pela Igreja Católica após mais de um século de punição.
A reconciliação foi anunciada neste domingo (13) pelo dom Fernando Panico, bispo da Diocese de Crato (CE), que recebeu uma carta do Vaticano com a decisão do papa Francisco.
Conhecido popularmente como Padim Ciço, ele foi afastado da Igreja Católica após um episódio em 1889 que ficou conhecido como "milagre da hóstia", no qual uma hóstia dada pelo padre a uma beata teria se transformado em sangue.
"É o primeiro processo de reabilitação, de esquecimento do passado, que conheço na Igreja. É um caso único, estamos fazendo know-how", disse à Folha Armando Lopes, chanceler da Diocese de Crato. Segundo ele, a Diocese não pretende iniciar um pedido de beatificação de Padre Cícero de imediato: "É um processo muito demorado, não é nossa prioridade".



Bispo anuncia perdão do Vaticano a padre Cícero
Nos anos seguintes, o padre foi proibido de confessar, pregar e administrar os sacramentos, além de celebrar missas. Em 1896, O Santo Ofício determinou que ele deixasse a cidade de Juazeiro do Norte, sob pena de ser excomungado.
As punições se seguiram até 1926, quando o padre foi suspenso definitivamente pela Igreja, que lhe retirou as ordens. Ele morreu em 1934.
Carismático, Padre Cícero tinha influência sobre a vida social e política na região de Juazeiro do Norte, onde hoje há uma estátua de 27 metros de altura em sua homenagem.
A reconciliação foi pedida ao Vaticano há nove anos por dom Fernando Panico e é o primeiro passo para a reabilitação de Padre Cícero. Caso seja reabilitado, o padre estará apto a ser beatificado e canonizado.
A carta, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, diz que o Padre Cícero "viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo". A íntegra do documento será divulgada no próximo domingo (20) pela Diocese de Crato.
Em uma rede social na internet, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) afirmou que recebeu "com muita alegria a informação da reconciliação da Igreja Católica com o querido Padre Cícero Romão Batista, nosso Padim"

domingo, 29 de novembro de 2015

A MÚSICA É UM PEDAÇO DO CÉU

Por Geraldo Anízio*

O Seridó está de parabéns pelo grande Dia da Música. As filarmônicas dão continuidade aos trabalhos deixados pelos mestres seridoenses. Hoje novos jovens entram para o estudo do solfejo, depois, optam pelo instrumento que farão parte na vida deles. Opção brilhante aos que se dedicam a maestria de filarmônicas tais como: Bembém, na cidade de Cruzeta, Totó  em Caicó, Wilsom e Manoel Cícero, em Florânia, Raimundo em São João do Sabugi e outros de  talento iguais aos citados no Seridó. A arte da música possa reativar a plenitude  da harmonia para que os sons sejam ouvidos lá  no céu.

CLAVE DE SOL DIA DO MÚSICO

As bandas de músicas e  maestros do Seridó estão felizes pelo dia deles. A colcheia e a  semibreve no compasso da clave, faz o dobrado mais bonito. Os músicos antigos introduziram a música aos aprendizes do solfejo nas pequenas retretas.

Honório Maciel em São joão do Sabugi, Marciano em Florânia, Manoel Felipe Nery e tantos  outros  mestres  da  partitura  musical. O dia deles em homenagem a arte que encanta a alma  humana trazida dos céus.

*Com post na página do autor.

- Segundo as pesquisas, o Dia do Músico é comemorado em 22 de novembro, em homenagem à Santa Cecília, padroeira dos músicos.



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A Chacina de Currais Novos/RN

A Chacina de Currais Novos/RN


Em 1935, comunistas e presos de justiça foram fuzilados.
Luiz Gonzaga Cortez 

No dia 23 de novembro de 2015, a revolta comunista de 1935 fez 81 anos. Dos que pegaram em armas ou não, mas que participaram da insurreição, só resta vivo o ex-gráfico Francisco Meneleu dos Santos, natural de Areia Branca/RN e residente em Fortaleza/CE. * Nos últimos 5 anos, Meneleu veio a Natal várias vezes e aqui recebeu homenagens dos membros do PC do B. Mas deixemos isso de lado e vamos relembrar a misteriosa, esquecida e famigerada Chacina de Currais Novos. Você, caro leitor, já ouviu falar nesse massacre? Pois saiba que tem gente viva que viu a chacina na Serra da Dorna, perto de Barra Verde e do Saco do Veado, município de Currais Novos, segundo informa Volney Liberato, pesquisador daquela cidade seridoense, onde os integralistas, agricultores e fazendeiros, comandados por sargentos da Polícia Militar, destacados em Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Acari e outras cidades, enfrentaram e derrotaram os revoltosos de novembro de 1935, na Serra do Doutor, município de Santa Cruz. Os elementos civis que se destacaram no combate, conhecido por "Fogo da Serra do Doutor", foram os integralistas de Carnaúba dos Dantas, os irmãos Lúcio, Felinto (este ficou famoso, décadas depois, como compositor de hinos sacros e dobrados), Manoel Lúcio e Joel e os fogueteiros que fabricaram as bombas caseiras lançadas nos veículos do Exército que transportavam os militares que se destinavam à cidade de Caicó com o fito de implantar o poder revolucionário do Partido Comunista e da Aliança Nacional Libertadora. Dinarte Mariz, que não pisou na serra, foi para Campina Grande buscar armas e munições. Depois da emboscada feita pelos policiais militares e os integralistas, Dinarte apareceu por lá em direção a Natal. Quem primeiro abordou esse assunto foi o falecido escritor João Maria Furtado (Vertentes, p. 139, Livraria Olímpica Editora Ltda, Rio, 1976) ao transcrever parte de depoimento prestado por José Bezerra de Araújo, político da UDN, ligado a Dinarte Mariz, sobre os acontecimentos na Serra do Doutor e Currais Novos. Dr. José Bezerra de Araújo disse a João Maria Furtado que após a derrota dos comunistas, "elementos do Partido Popular tiraram da cadeia de Currais Novos presos de justiça que lá se achavam e os que eram adversários políticos foram sumariamente fuzilados, depois de conduzidos a lugar ermo, fora da cidade". O Partido Popular era liderado por José Augusto Bezerra de Medeiros e Rafael Fernandes Gurjão, este o governador destituído pelos comunistas em 23 de novembro de 1935.
 Mas agora, mais de 20 anos depois que publiquei reportagens sobre "O Comunismo e as lutas políticas do RN na década de 30", em O POTI, um pesquisador de Currais Novos, Volney Liberato, após ler uma matéria minha sobre o ex-marinheiro Jaime de Souza Bastos, 88 anos, que mora em Igapó, Natal, disse que as informações publicadas conferem com algumas informações que ele tem. "Os mais antigos comentam, sem ódio e sem paixões, que quando retiraram os presos da antiga cadeia da rua do Rosário (hoje Vivaldo Pereira), pelos integrantes do Partido Popular, quem era adversário, mesmo sem ser comunista, foi dali retirado e executado sumariamente em local ermo do município, sendo depois seus corpos jogados na Serra da Dorna. Existe também outra versão que foi dada pelo soldado reformado João Rodrigues, hoje com 92 anos de idade, de que logo após os acontecimentos da Serra do Doutor, poderosos da cidade se dirigiram até a cadeia, onde lá mandaram soltar todos os presos, ordenando que fossem embora, que fugissem. Muitos deles ganharam o caminho de Frei Martinho/PB, mas antes de chegarem a Rio da Boa Vista foram emboscados por cabras contratados por esses poderosos e sumariamente executados.
 Dois deles ainda chegaram com vida à cidade, mas um deles finou-se na calçada do cemitério de Santana, sob as esporas de um desses poderosos, enquanto o outro era jogado por cima da parede, da calçada para o interior do cemitério, pelos cabras contratados, vindo a falecer da queda. O pai de um desses que assim foi executado terminou por ir embora de Currais Novos, pois começou a sofrer discriminação e reserva por parte do "coronelato" local. O pai do outro, se não me engano, enlouqueceu, terminando seus dias em Natal/RN. Como os fatos históricos, principalmente os que se referem aos acontecimentos de 1935, principalmente aqui em Currais Novos, ainda não são muito velados, pois os nomes dessas duas vítimas do sistema repressor do PP, não nos foi fornecido, nem os nomes dos seus pais, pois os mais velhos ainda temem em declinar nomes, como se ainda estivéssemos em plena ditadura do Estado Novo ou na Redentora de 64", assegurou o pesquisador Volney Liberato.
* Texto escrito em 2006
* Francisco Meneleu dos Santos faleceu em Fortaleza/CE
 www.dhnet.org.br 

A Revolta Comunista de 35 e o Tenente José Bastos.

O tenente da PM/RN, José Bastos foi delegado de polícia em Parelhas, Currais Novos e Mossoró. Em novembro de 1935, ele colocou os revoltosos presos em Serra do Doutor na cadeia de Currais Novos. Dias depois, os presos foram mortos na Gruta da Dorna, ao lado da estrada em direção a Cerro Corá. Meses depois, o tenente José Bastos foi prestigiado pela padre Mota, vigário de Mossoró (foto superior). Na década de 40, participou de um evento no fórum de Mossoró, ao lado de empresários e magistrados e advogados (foto inferior). 



terça-feira, 24 de novembro de 2015

Antônio de Barros Passos.

Antônio de Barros Passos, Diretor dos Índios da Vila de Extremoz
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
Pelo Facebook, Manoel de Freitas Filho me interpela querendo saber quem eram os avós de Anna Joaquina de Barros, que foi casada com o alferes José Rebouças de Oliveira. Dizia que ela era filha de Antonio de Barros Passos e de Ana de Lima Abreu.
Fui até as imagens que tinha fotografado na Cúria Metropolitana e no IHGRN. Fiquei confuso, pois, encontrei dois Antonio Passos Barros, e algumas imagens de difícil leitura. Precisei ordenar minhas informações, para evitar informações contraditórias. É importante salientar que até os documentos primários dão informações equivocadas, não sendo garantia total da verdade. Mas vamos ver as informações que reuni.
Em primeiro lugar, vejamos o batismo que encontrei no projeto Ultramar, Antônio de Barros Passos Junior  conforme uma certidão de Antônio Jácome Bezerra, Vigário Colado na Paroquial Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, da Vila do Recife de Pernambuco: Certifico que vendo os livros dos assentos dos batizados desta Freguesia, no livro primeiro, as folhas cento e oitenta da parte de Santo Antonio, achei o assento de teor seguinte: Aos trinta e um de abril de mil setecentos  e trinta e três, batizou, de minha licença, o Reverendo Padre Felipe Ribeiro de Brito, nesta Igreja do Santo São Pedro a Antonio, filho de Antonio de Barros Passos, e de sua mulher Ana de Lima (de Abreu), moradores nesta Freguesia, e lhe pôs os Santos Óleos, e foram padrinhos Domingos de Barros, morador na Freguesia de São Lourenço e Josefa Maria, filha de Mathias (?) Luis de Brito, morador nesta Freguesia. Felis Machado Ferreira, Padre Felippe Ribeiro de Brito, e não continha mais o dito assento, a que me reporto, e afirmo em fé de Pároco, do que mandei passar a presente em que me assino. Recife, 27 de setembro de 1803. O Vigário Antonio Jácome Bezerra.
Tanto pai como filho, ambos militares, vieram de Pernambuco para o Rio Grande do Norte, na mesma data: o pai era sargento e veio para Diretor dos Índios da Vila de Extremoz, o filho era soldado e veio como Mestre de Escola dos Índios da Vila de Extremoz, no ano de 1759. Aqui, Antonio de Barros Passos gerou outros filhos, mas sua esposa não era mais Anna, mas sim Luzia de Abreu e Lima, talvez irmã da primeira. Vejamos alguns assentos das irmãs de Antonio de Barros Passos Junior, que nasceram aqui na nossa capitania.
Inocência, filha legítima do tenente Antonio de Barros Passos, natural da Freguesia de São Lourenço da Mata, e de Dona Luzia de Abreu Lima, natural de Santo Antonio do Recife, neta por parte paterna de Domingos de Barros e de Ângela Vieira de Passos, da Freguesia de São Lourenço da Mata, e pela materna de Domingos Grades de Abreu, natural de Lisboa, e de Dona Caetana de Abreu e Lima, natural do Recife, nasceu aos vinte e oito de dezembro do ano de mil e setecentos e setenta e dois, e foi batizada com os santos óleos, de licença minha, pelo Padre Miguel Pinheiro Teixeira, aos quatro de janeiro do ano de 1773, fui eu padrinho, e madrinha Dona Caetana de Abreu e Lima, por procuração que mandou de Pernambuco, onde é moradora. Do que mandei lançar este assento em que me assino. Pantaleão da Costa de Araújo.
Águida, filha do tenente da Fortaleza, Antonio de Barros Passos, natural da Freguesia de São Lourenço da Mata, e de Dona Luzia de Abreu Lima, natural do Recife, Freguesia de São Pedro Gonçalves, neta por parte paterna de Domingos Barros, e de Ângela Vieira dos Passos, naturais da mesma Freguesia de São Lourenço, e pela materna de Domingos Grades de Abreu, natural de Lisboa, e de Dona Caetana de Abreu Lima, natural do Recife, nasceu aos cinco dias do mês de fevereiro do ano de mil setecentos e setenta e cinco, e foi batizada com os santos óleos nesta Matriz, de licença minha, pelo Padre Coadjutor Bonifácio da Rocha Vieira, aos cinco de março do dito ano; foi padrinho o Doutor Provedor Antonio Carneiro de Albuquerque Gondim, casado, do que mandei fazer este assento em que me assinei. Pantaleão da Costa de Araújo.
Rita, filha legítima do tenente Antonio de Barros Passos, e de Dona Luzia de Abreu e Lima, foi batizada na Matriz desta cidade, de licença minha, pelo Reverendo Vigário da Vila de Extremoz, Valentim de Medeiros de Vasconcelos, com os santos óleos, neta por parte paterna de Domingos de Barros e de Ângela Vieira, naturais de São Lourenço da Mata, e pela materna  de Domingos Grades de Abreu, e de Dona Caetana de Abreu e Lima, ele natural de Lisboa, e ela natural de Pernambuco; foram padrinhos o licenciado José Ignácio de Brito, e Anna Joaquina Noberta, ambos solteiros e moradores nesta Freguesia, e não se continha mais nada neste assento em que mandei lançar e me assino. Francisco de Sales Nunes, Vigário Encomendado do Rio Grande (ano 1782). Neste registro havia uma troca das naturalidades dos pais de Luzia, com relação aos registros anteriores, além de não conter a data de batismo.
Há uma distância grande entre o nascimento do filho Antonio de Barros Passos Junior e esses que nasceram aqui no Rio Grande. Encontra outra filha de Antonio e Luisa, através de um registro de casamento: Em 10 de setembro de 1783, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Teodósio Luiz da Costa Moreira, filho de José Antonio Moreira e Marta da Costa, da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário da Vila de Santa Cruz do Aracati, casou com Maria da Apresentação, filha do tenente Antonio de Barros Passos e Luiza de Abreu e Lima, natural de Extremoz.
Em um assentamento de praça, com anotações quase ilegíveis, fora da parte central, consta que Antonio de Barros Passo, sargento da Companhia do tenente-coronel do Regimento de Infantaria paga do Regimento de que é coronel João Lobo de Lacerda, veio por Diretor dos Índios da Vila de Extremoz do Norte, chamada antigamente Guajirú, sentou em 22 de junho de 1759. Passou este sargento para tenente da Barra desta Cidade por patente do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Conde de Pavolide, governador e capitão-general de Pernambuco, Paraíba e nas capitanias anexas, e fica em praça sentado no livro 3 de matricula do capitão Manoel da Silva Vieira. Consta, ainda, na lateral do assento, que faleceu aos 29 de maio de 1795, tendo se habilitado Dona Luzia, até seu falecimento. Não encontrei, ainda, o óbito de Dona Luzia.
Vejamos mais detalhes da concessão da patente de tenente a ele concedida. No ano de 1769, o Conde de Pavolide, governador e capitão geral de Pernambuco, Paraíba e das capitanias anexas, D. José da Cunha (Grã) Athaíde (e Mello), nomeava Antonio de Barros Passos, na vaga por falecimento de Thomaz Pinheiro, como tenente da Fortaleza dos Santos Reis Magos da Barra da cidade do Natal. Nas considerações que fez para conceder a referida patente constava que o nomeado tinha servido sua majestade durante 31 anos, 10 meses e sete dias, no Regimento de Infantaria paga da Guarnição da Praça do Recife, em praça de soldado, cabo de esquadra, sargento supra e de número, sem nota alguma em seus assentos que lhe servisse de impedimento, indo no dito tempo destacado, uma vez para o presídio do Rio Grande do Norte, duas vezes para o da capitania de Itamaracá, três para o da Ilha de Fernando de Noronha e outra três vezes para o da Fronteira de Itamaracá, procedendo sempre com procedimento, limpeza de mãos, zelo do Real serviço, préstimo, atividade em obediência aos seus superiores, dando inteira conta de tudo, o que lhe foi encarregado do mesmo Real serviço, procedendo igualmente no emprego que lhe foi destinado e escolhido pelo governador Luis Diogo Lobo da Sylva, em 15 de junho de 1753 (na verdade 1759), para Diretor dos Índios, da nova Vila de Extremoz, ereta na capitania do Rio Grande do Norte, de onde ainda se conserva, fazendo com seu desvelo, prudência e cuidado a (ilegível) civilizar os seus habitadores e aumentar a cultura dela, de sorte que me consta da boa economia a que se tem reduzido.
No próximo artigo, escreveremos sobre Antônio de Barros Passos Junior, este sim, sogro de José Rebouças de Oliveira

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Retalhos do meu sertão.

Caros amigos da cultura do RN,



AZYMUTH  acaba de publicar mais um título. Trata-se do livro "Retalhos do Meu Sertão" do autor José Fernandes Bezerra (1905-1980), publicado originalmente em 1979. 

Uma obra célebre, há muitos anos esgotada. Consta os principais vaqueiros e fazendeiros norte-rio-grandenses, com suas biografias, como Pedro Pereira de Araújo, Rainel Pereira e outros. Além de biografias dos mais famosos cantadores do Rio Grande do Norte, dentre os quais, Fabião das Queimadas. 

Essa edição é comemorativa dos 105 anos de nascimento do autor. Traz a introdução do pesquisador Kydelmir Dantas. Além do prefácio original de Waldson Pinheiro.

Valor do livro: R$ 45,00. Parte das vendas ajudará o Hospital Infantil Varela Santiago. Lançamento em breve.

Locais de Venda: 

Azymuth


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Grato.

AZYMUTH


domingo, 15 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015


Bartholomeu Nabo Correa e Domingos Paes Botão




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
 Professor da UFRN, sócio efetivo do IHGRN e do INRG
No dia 5 de outubro de 2015, o advogado Kennedy Diógenes lançou o romance Matryoshka. É a saga de seu ascendente, Domingos Paes Botão, patriarca da família Diógenes, que se inicia no século XVII e retorna, neste século, com um jornalista Gian Micetti, encarnação de Diógenes, filho do dito Paes Botão.
Como Domingos Paes Botão esteve um tempo no Rio Grande do Norte, tendo aqui nascido um dos seus filhos,  resolvemos fazer este artigo para contribuir com dados encontrados em arquivos antigos da nossa capitania. É importante informar que com o extravio de muitos documentos do passado, a  história e genealogia do nosso povo está repleta de vazios, que são preenchidos por lendas e informações orais. Ao longo do tempo, muitas dessas informações ou lendas foram se transformando e algumas vezes se afastando da verdade. Por isso, todo documento que possa ajudar a corrigir equívocos deve ser disponibilizados para todos. Juntos, podemos refazer a História deste país com mais fidedignidade.
Com a saída dos holandeses do Brasil, quem veio tomar conta do nosso Rio Grande foi Antonio Fernandes Furna. Posteriormente, Antonio Vaz Gondim, ocupou por três vezes o cargo de capitão-mor desta Capitania. Já em 1659 recomeçou a concessão de sesmarias. Aqui, Vaz Gondim deixou vasta descendência, além de trazer para cá parentes e amigos. Um deles foi Theodósio da Rocha, natural do Rio São Francisco, Vila do Penedo, possivelmente, seu genro.
Segundo a tradição oral, Domingos Paes Botão veio para o Nordeste com outros companheiros, na missão conhecida por “Homens de São Francisco”, comandada pelo capitão Bartholomeu Correa Nabo, entre 1683 e 1686. Segundo consta no romance Matryoshka, lá em Penedo, o comandante fez uma chamada para outorgas das datas de sesmarias destinadas a cada oficial: João Alves Feitosa e Francisco Alves Feitosa: região dos Icós; Estevão Velho de Moura: região de Aquiraz; João da Fonseca Ferreira e Antonio da Fonseca Ferreira: região de Piancó e Sítio Cascavel; Domingos Paes Botão: região de Santa Rosa e Sítio Cascavel. Vejamos informações de alguns desses personagens.
Nos livros das Sesmarias do Ceará, encontramos que Domingos Paes Botão e João da Fonseca Ferreira, moradores no Ceará Grande, receberam terras em Cascavel, em 1694; o capitão João da Fonseca Ferreira e Antonio da Fonseca Ferreira receberam no Rio Salgado, terras no ano de 1704; o capitão João da Fonseca Ferreira recebeu terras em 1706, no Rio Salgado que deságua no Rio Jaguaribe, que há anos vinha povoando com casas e currais, havendo a informação de que na sua petição constava que o suplicante disse ser ereo nas datas dos Homens do Rio São Francisco, no Rio Jaguaribe;
Estevão Velho de Moura, que aparece na relação acima, recebeu, junto com Manoel da Costa Barros, confirmação de data em maio de 1683, no Rio Pacoty, por ele acima. Foi concedida no Rio Grande, no ano de 1681, e confirmada no Ceará. Isto é Estevão já era sesmeiro, pelo menos, desde 1681. Ele e sua mulher Anna da Costa forma padrinhos, em 1705 de Custódia, filha de Manoel Tavares Guerreiro, e de Rosa Maria, filha de Roque da Costa Gomes. Em 1711, foi padrinho de Maria, filha de João Malheiros.
Salientamos que, já em 1680, o capitão-mor Geraldo de Suny concedeu ao capitão Domingos Martins Pereira, ao capitão Bartholomeu Nabo Correia, ao alferes Gonçalo Peres de Gusmão, ao ajudante Manoel Nogueira Ferreira, ao capitão Luiz Braz Bezerra, ao capitão Luiz Antunes de Faria, ao alferes João Ferreira Nogueira, Balthazar Nogueira, Antonia de Freitas e Manoel Rodrigues Rocha, cinquenta léguas de terras no Rio das Piranhas e cinquenta léguas no Rio Guaxinim. No texto da concessão o Provedor informa que, no Rio Guaxinim, há quatro anos, tinha o capitão-mor Antonio Vaz Gondim dado duas datas, uma a Manoel Afonso Fragoso e a sete companheiros e outra ao capitão Theodósio da Rocha e seis companheiros, mas que não foram povoadas e nem cultivadas. Detalhe importante é que em 1682, esses sesmeiros receberam terras nos Rios Panema e Jaguaribe, e Ituhum, registradas na Bahia, mas tiveram que renunciar as terras anteriores dadas no ano 1680.
Sobre Bartholomeu Correa Nabo, há quem acredite na existência de dois com o mesmo nome. Entretanto, não vi justificativa para essa crença. Sei que um dos seus filhos era homem, mas não descobri seu nome.
Bartholomeu Nabo Correa que foi nomeado capitão de infantaria da Bahia, em 1668, e sua mulher D. Luisa (Bixarxe) e filhas D. Vitória da Encarnação e Dona Maria da Conceição e, mais outros, no total de 36, receberam alvará de confirmação em novembro de 1691, no Rio Jaguaribe, capitania do Ceará. Tinha sido concedida em janeiro desse mesmo ano. Vitória da Encarnação e Maria da Conceição eram irmãs Clarissas, tendo a primeira falecido em 1715. Já Bartholomeu Nabo era falecido no ano de 1698. Algumas informações que se repetem sobre Nabo, vem de escritos sobre sua filha famosa, Madre Vitória da Encarnação.
Pelos documentos que estudamos, nos parece que por algum motivo não identificado, até agora, a família Paes Botão e Fonseca Ferreira, se estabeleceu aqui, na nossa capitania, entre o final do século XVII e começo do século XVIII.
Vejamos algumas informações sobre Domingos Paes Botão, começando com o batismo de um filho dele, aqui no nosso Rio Grande: Em 20 de abril de 1698, na Capela de São Gonçalo do Potengi, batizou o padre Francisco Bezerra de Góis a Diógenes, filho de Domingos Paes Botão e de sua mulher Maria da Fonseca. Foram padrinhos o capitão João da Fonseca (talvez João da Fonseca Ferreira) e Bernarda da Fonseca filha da viúva Izabel Ferreira. Assinado pelo vigário Simão Rodrigues de Sá. Por este registro, Domingos vivia por aqui nesse final do século XVII.
Um registro do começo do século XVIII dá notícia da presença de uma enteada de Domingos Paes Botão, o que leva-nos a acreditar que ele foi casado, primeiramente,  com uma viúva, que já tinha essa filha: Em 4 de julho de 1703, na Capela do Senhor Santo Antonio do Potengi, com licença minha, o Padre Francisco Bezerra de Góis, batizou a João, filho de Antonio de Amorim e sua mulher Perpétua de Barros. Foram padrinhos o mesmo padre Francisco Bezerra de Góis e Isabel de Heça, enteada de Domingos Paes Botão.
Mais adiante vamos encontrar Genoveva, filha de Domingos Paes Botão, presente ainda neste Rio Grande: Em 16 de julho de 1705 anos, nesta Paroquial de Nossa Senhora da Apresentação, batizei a Damiana, filha de Isadora, crioula, escrava da viúva Mariana da Costa. Foram padrinhos Manoel Ferreira e sua sobrinha Genoveva, filha de Domingos Paes Botão. Tem os santos óleos, Simão Rodrigues de Sá.
O tio de Genoveva devia ser irmão da esposa de Domingos. Talvez, seu nome completo fosse Manoel Ferreira Fonseca ou da Fonseca Ferreira. Ele deve ser o filho de Augustinho da Fonseca, que aparece no assentamento, mais adiante. No ano seguinte os dois tio e sobrinha aparecem, novamente, sendo padrinhos de outra filha de Isidória, escrava de Marianna da Costa: Em 21 de julho do ano de 1706, na Capela do Senhor Santo Antonio do Potengi, batizou o Padre Francisco de Bezerra Góis, a Luisa, filha de Isidória, crioula, escrava da viúva Marianna da Costa. Foram padrinhos Manoel Ferreira e sua sobrinha Genoveva Ferreira Fonseca. Simão Rodrigues de Sá.
Nas informações encontradas, em alguns autores, sobre Domingos, consta que sua esposa, Maria Fonseca Ferreira, era irmã de Antonio da Fonseca Ferreira e João da Fonseca Ferreira.
Encontramos registros de praça, aqui do Rio Grande, de dois filhos de Agostinho Fonseca, onde os assentados parecem ser parentes desses acima. Observamos que os sobrenomes aparecem invertidos, fato comum em algumas famílias da antiguidade.
Antonio da Fonseca Ferreira, filho de Augostinho da Fonseca, natural do Rio São Francisco, de idade de vinte e três anos, de boa estatura, cheio de corpo, cabelo e olhos negros, pouca barba, cor trigueira, é soldado desta companhia desde 5 de janeiro de 1699; Manoel Ferreira da Fonseca, filho de Augostinho da Fonseca, natural do Rio de São Francisco, de idade de vinte e cinco anos, cabelo e olhos negros, alto de estatura e seco de corpo, pouca barba, cor pálido, é soldado desta companhia desde 5 de janeiro de 1699. Ambos os documentos assinados por Manoel Gonçalves Branco, tendo sido dado baixa em 1703.
Antonio e Manoel, desconfio que eram os irmãos do capitão João da Fonseca Ferreira, cunhado de Domingos Paes Botão.
As informações acima podem ajudar o jornalista Gian Micetti, na sua tarefa de reconstituir a história da família Diógenes.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quer a cidadania portuguesa?

Saiba como lei portuguesa pode dar cidadania a brasileiros descendentes de judeus

  • 9 novembro 2015
Image copyrightThinkstock
Image captionPassaporte português está mais próximo de milhares de brasileiros descendentes de sefarditas
Milhares de brasileiros podem obter a cidadania portuguesa como descendentes de sefarditas.
A lei portuguesa que beneficia os herdeiros dos judeus expulsos da Península Ibérica no século 15 foi aplicada pela primeira vez em outubro, com a aprovação de três pedidos de naturalização, um deles vindo justamente do Brasil.
Embora não existam dados oficiais que confirmem o número atual de sefarditas, diferentes organizações judaicas estimam que haja 3,5 milhões em todo o mundo. No Brasil, eles seriam em torno de 40 mil, dos cerca de 110 mil judeus que vivem no país.
Mas o número de brasileiros beneficiados pela medida do governo português pode ser expressivamente maior, já que a lei não especifica que apenas os descendentes que ainda pratiquem o judaísmo sejam contemplados com a naturalização.
"O critério legal é a ascendência sefardita portuguesa, não a religião do interessado. Como se sabe, um segmento importante de pessoas abrangidas pela lei é de descendentes de judeus sefarditas que foram forçados à conversão ao cristianismo", explica à BBC Brasil o advogado português Rui Castro, especialista em processos de cidadania lusa e que mantém escritórios no Brasil e em Portugal.
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Em 1496, o rei D. Manuel determinou a expulsão de todos os judeus do território português. Os que optaram por permanecer no país foram obrigados a se converter, ficando conhecidos como cristãos-novos. Durante o período da Inquisição, muitos desses judeus convertidos também foram perseguidos e forçados a abandonar Portugal, refugiando-se em diversos países, entre eles o Brasil.

Sobrenomes oficiais

ReproduçãoImage copyright
Image captionA aquarela 'A Expulsão dos Judeus', do artista português Roque Gameiro, retrata a história da Inquisição em Portugal (Reprodução)
Desde que surgiram as primeiras notícias há aproximadamente dois anos, de que Portugal e Espanha aprovariam leis que facilitariam a naturalização dos descendentes de sefarditas, circulam pela internet listas com milhares de sobrenomes – alguns deles entre os mais comuns do Brasil – que indicariam a ascendência, mas nenhuma delas de cunho oficial.
Essa lacuna foi preenchida com a publicação do Decreto-Lei n.º 30-A/2015, de 27 de fevereiro passado, que abriu caminho para a naturalização dos descendentes de sefarditas, em que a Justiça lusa finalmente divulgou uma lista oficial com os seguintes sobrenomes: Abrantes, Aguilar, Almeida, Álvares, Amorim, Andrade, Avelar, Azevedo, Barros, Basto, Belmonte, Brandão, Bravo, Brito, Bueno, Cáceres, Caetano, Campos, Cardoso, Carneiro, Carvajal, Carvalho, Castro, Crespo, Coutinho, Cruz, Dias, Dourado, Duarte, Elias, Estrela, Ferreira, Fonseca, Franco, Furtado, Gaiola, Gato, Gomes, Gonçalves, Gouveia, Granjo, Guerreiro, Henriques, Josué, Lara, Leão, Leiria, Lemos, Lobo, Lombroso, Lousada, Lopes, Macias, Machado, Machorro, Martins, Marques, Mascarenhas, Mattos, Meira, Melo e Prado, Mello e Canto, Mendes, Mendes da Costa, Mesquita, Miranda, Montesino, Morão, Moreno, Morões, Mota, Moucada, Negro, Neto, Nunes, Oliveira, Osório (ou Ozório), Paiva, Pardo, Pereira, Pessoa, Pilão, Pina, Pinheiro, Pinto, Pimentel, Pizarro, Preto, Querido, Rei, Ribeiro, Rodrigues, Rosa, Sarmento, Salvador, Silva, Soares, Souza, Teixeira, Teles, Torres, Vaz, Vargas e Viana.
A iniciativa, no entanto, gerou críticas, pois apenas o sobrenome não é suficiente para a entrada com o pedido de cidadania. "O legislador cometeu um erro ao mencionar essa lista. Existem nomes que efetivamente estão estreitamente relacionados a uma origem sefardita, mas, mesmo nestes casos, o interessado tem de reunir elementos complementares de prova", diz Rui Castro.
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Image captionLei beneficia herdeiros dos judeus expulsos da Península Ibérica (mapa acima) no século 15

Maior rigor

Segundo o Consulado Geral de Portugal em São Paulo, para solicitar a naturalização é preciso que o candidato comprove laços com uma comunidade sefardita de origem portuguesa. Isso é possível através de alguns requisitos que confirmem a ligação com Portugal, como sobrenome, idioma familiar, e descendência direta ou colateral.
Em países como Turquia, Israel ou Estados Unidos, com um número considerável de descendentes de sefarditas, a confirmação de um nome de família e até mesmo do uso da língua portuguesa já pode significar um grande passo para conseguir a cidadania lusa. No entanto, o fato de o Brasil ser uma ex-colônia de Portugal faz com que muitos destes elementos não sejam suficientes para provar a ascendência, tornando o processo mais rigoroso para os brasileiros.
"Os pedidos de cidadãos brasileiros que afirmam ser descendentes de pessoas condenadas pela Inquisição por heresias relativas ao judaísmo não pode ser admitido automaticamente", admite Michael Rothwell, porta-voz da Comunidade Israelita do Porto, responsável por emitir o Certificado da Comunidade Judaica Portuguesa, documento usado para confirmar a ascendência sefardita no processo de naturalização.
A organização com sede no Porto tem emitido o certificado apenas para judeus praticantes, o que tem sido criticado pelos advogados especialistas na naturalização lusa.
"Esta é uma interpretação errada da lei, não só para a maioria dos juristas que tratam do tema, mas também na opinião da Comunidade Israelita de Lisboa, que não segue por este caminho", argumenta Rui Castro. "A naturalização não deve ser condicionada pela halachá (lei judaica), que determina sob seus específicos critérios quem é ou não judeu. O que deve ser considerado é se o interessado é descendente desses portugueses que foram forçados a abandonar seu país e, muitas vezes, suas crenças para continuar vivos."
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Image captionHoje um dos pontos turísticos mais famosos de Lisboa, a praça do Rossio, no centro da capital, foi palco de execuções de judeus durante a Inquisição (Foto: Mamede Filho)
Fundador e diretor da Associação Brasileira de Descendentes de Judeus da Inquisição (Abradjin), Marcelo Miranda Guimarães defende uma interpretação "sensibilizada" da lei pelos portugueses, que facilite a naturalização dos herdeiros de cristãos-novos.
"A lei é muito bem-vinda, mas precisa ser interpretada com consciência e sensibilidade, porque a maioria desses judeus foi obrigada a se converter ao cristianismo para não morrer, eram pessoas proibidas de realizar qualquer ritual ligado ao judaísmo", explica Guimarães à BBC Brasil.
"Como podemos ir a uma sinagoga buscar os documentos dos nossos ancestrais se nem sinagogas existiam naquela época no Brasil, onde o judaísmo também era proibido? Mas existem caminhos alternativos. Vários livros relatam as histórias dessas famílias no país, listam nomes e documentam a realidade da época. Isso deve ser levado em consideração como prova, porque, se não for, mais de 95% dos descendentes brasileiros não terão direito a essa reparação", afirma.

Custos e procedimentos

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Image captionUma seção do Museu da História da Inquisição, em Belo Horizonte, é dedicada às vítimas brasileiras da intolerância religiosa (Foto: Associação Brasileira de Descendentes de Judeus da Inquisição/Divulgação)
Depois de levantar os documentos que considerar necessários para comprovar a ascendência sefardita, é preciso obter o Certificado da Comunidade Judaica Portuguesa, por intermédio das comunidades israelitas de Lisboa ou do Porto. A ausência desse certificado pode ser compensada de outras maneiras, como com "a apresentação de registros de sinagogas e cemitérios judaicos, títulos de residência, títulos de propriedade, testamentos e outros comprovantes de ligação familiar na linha colateral de progenitor comum a partir da Comunidade Sefardita de origem portuguesa”, de acordo com o Consulado Português em São Paulo.
Os candidatos têm ainda de ser maiores ou emancipados face à lei portuguesa e não podem ter sido condenados a crimes com pena igual ou superior a três anos, também de acordo com a legislação vigente no país europeu.
Segundo Rui Castro, o custo global do processo nunca será inferior a 1 mil euros (cerca de R$ 4,3 mil), valor que pode aumentar se for preciso realizar o levantamento de documentos ou se o candidato optar por contratar uma assessoria jurídica.
Em contato com a BBC Brasil, o Ministério da Justiça português informou que até o fim de outubro 250 pedidos de naturalização estavam em análise, dos quais cerca de 10% correspondiam a cidadãos brasileiros. A expectativa, no entanto, é de que esse número cresça nos próximos meses, impulsionado pelas notícias de que Portugal começou a aplicar a lei que garante a cidadania aos descendentes de sefarditas.

domingo, 8 de novembro de 2015

Uma carta de Paulo Balá.

Juntando lembranças

Publicação: 08/11/15
Woden Madruga
[woden@terra.com.br]

Quase no findar de outubro, lua ainda cheia, me chega nova carta do doutor Paulo Bezerra que continua - nos intervalos que o tempo lhe permite no refúgio da Fazenda Pinturas -  buscando “lembranças antigas” no seu velho baú seridoense.  Desta feita dá prioridades aos professores que marcaram a história cultural do Acary, mestre e educadores que também levaram a sua missão para outras cidades daqueles sertões exercendo outras profissões para melhor servir ao seu povo.  O ilustre missivista e memorialista começa enfileirando assim suas lembranças:

“O Professor Tomás Sebastião de Medeiros (1854-1949) foi um homem de significativa importância na formação cultual do Acari, em todos os sentidos, ao longo dos anos em que prestou inestimáveis serviços à sua terra tanto como professor como tabelião público, fabriqueiro da paróquia, secretário da prefeitura, assim como na sua atividade religiosa e na sua conduta limpa através dos proveitosos anos de sua existência de 95 primaveras, vivendo a última metade do século 19 e a primeira do século 20, anos de profundas alterações.

Filho de Joaquim Cesar de Medeiros e Jesuína Maria de Jesus, esta filha do Padre Tomás de Araújo com Maria Custódia do Amor Divino. Casou com Guilhermina Bezerra de Medeiros (Bibi, 1857-1945), filha de Manoel Bezerra de Araújo Galvão e Ana de Araújo Pereira. Homem claro, alto, forte, esguio, camisa branca de colarinho, gravata de laço, terno escuro, colete preto, botas luzidias, sentado em cadeira de palhinha, com porte de guerreiro, mãos espalmadas sobre as cosas, óculos de grau, a cabeça branca e a barba branca, ascético, sisudo em fotografia tirada entre 25 de abril de 1926 e 6 de janeiro de 1928 com outros homens daquele tempo, num total de 25, e o vigário padre Luiz Carlos Guimarães Wanderley. Vi-o muitas vezes, com acendrado respeito, em sua casa parede-meia com a nossa, onde sua neta Iolanda, minha madrinha de jirau, de saudosa lembrança.

Foram muitos os professores que atuaram no Acari e Caicó, ensinando as primeiras letras, e a fazer conta sendo que na virada do século XX lá estavam além de Tomás Sebastião, Esperidião Medeiros que conheci velhinho em Caicó, Olindina Ernestina da Costa Pereira, esta minha avó materna, regente da Cadeira Elementar Feminina, filha de Ana Maria da Costa Pereira e neta de Luís Magalhães Cirne, 1º Tabelião de Jardim do Seridó, sangue de português. Daí que foi inaugurado o 1º Grupo Escolar do Acari, em 1908, o 2º do Seridó e o 4º do Estado, graças principalmente ao trabalho de Francisco Bezerra de Araújo Galvão, angariando dinheiro para tanto entre amigos e parentes, ele que foi um incentivador das coisas no Acari, inclusive colocando azulejo português no frontão de casa, mudando-se depois para Taperoá.

Porfíria Pires, durante a anos e anos, foi professora das primeiras letras, na sala de frente de sua casa, na rua da Igreja, só para meninos, onde muitas gerações aprenderam cobrindo letras e fazendo conta. Atacada de doença reumática perdeu a mobilidade, tornando-se cadeirante, primeiro em cadeira de braços levada por dois homens, depois já em cadeira de rodas, em seu caminho usual para a igreja. Acari muito lhe deve.

Calpúrnia Caldas de Amorim, nome de escola no Caicó, de Jardim do Seridó mudou-se para Acari com os filhos Olânia, Ônio, depois padre servindo em várias paróquias do Seridó, e Newton quando ensinou no Grupo Escolar e, em sua casa, dava aulas particulares. Na época havia o gosto por peças teatrais que, entre números variados, tinha a apresentação de um “drama” devidamente decorado e ensaiado. Certa vez eu era, entre tantos de outras cores, o lápis preto, mas nem me lembro do que fazendo.  Minha mãe me mandou à residência da professora onde, devidamente instruído, bati-lhe a janela – Ô de casa!,  e de lá de dentro a indagação – Ô de fora. Quem é? E a resposta em cima da bucha – É o lápis preto. No dia da estreia da peça cadeiras eram levadas para o salão do palco, correspondendo ao número de ingressos vendidos. Casa expectador mandava a sua. E eu nem sei até onde aquilo tenha influenciado a menina Rejane Medeiros, nascida no Acari em 1948, e que se fez atriz cinematográfica, uma bela mulher a filmar até na Itália.

Certo é que o velho grupo de 1908, então amputado para dar espaço à estrada central do Seridó, transformou-se na sede do poder municipal e, já agora, do poder legislativo. Assim, uma casa da rua da Matriz, por algum tempo virou sala de aula onde estudei. A classe era só de meninos e o sanitário era a latrina, usança do tempo, constante de um quadrado de alvenaria assoalhado e sobre ele um caixão vazado. Um sem-vergonha escreveu e desenhou na porta coisas indevidas, gerando na diretora Mirtes Bezerra o desejo de identificar o autor, mas, na impossibilidade, castigou a todos: cada aluno, borracha na mão, ia lá apagar uma letra.

O 2º grupo escolar de Acari foi construído por Ângelo Pessoa Bezerra, prefeito nomeado de 23.1.1941 a 31.7.7.1943, lançada a pedra fundamental com ata, nome de pessoas, moedas, e eu sei de memória onde ela está. A esposa dele, Natércia Maranhão, tocava piano, instrumento que a seguia aonde fosse. Sucedeu que na sua mudança, acho que de volta para Natal, o caminhão virou, e adeus piano.  Na terrinha, minha prima Stella Galvão tinha o seu, lembrança de quando estudou em Mossoró.  Ronaldo, filho do casal, era moleque do meu tope e depois estudamos no Atheneu debandando em seguida, eu no rumo do Recife, ele no de Areia, para nos encontramos de novo, diante de sadia e profunda amizade, e em cada um o seu anseio. Mas um dia a notícia estourou na Redinha, que nem uma bomba, o sol não tinha sequer nascido ainda – Assassinaram Ronaldo. E tudo correu na voragem do tempo...

Receba o meu abraço sertanejo.

Paulo Bezerra”

O Soneto Na gaveta dos papéis desarrumados encontro um envelope com letra de calígrafo de alto coturno. É do poeta cearense Virgílio Maia, datado de 14 de maio 1910. Na folha datilografada está escrito “Soneto com mote de Woden Madruga. Para Paulo Balá”:

Craveja o céu de sempre outro ano escasso/ Nos adustos dos mapas potiguares;/ Magra sede se mede nos olhares/ Dos bichos tristes de tão triste passo. // Luz de foto se amplia pelo espaço, / Açambarcando léguas de hectares, / Por decreto ferrando rês e os ares/ Do lasso Seridó de sola e laço. // Na Serra do Doutor, eis solitário/ Trovão acode à derradeira crença, / Desdobrando aos viventes trom de afago // Água não vem, nem tem; todo o cenário/ Propõe pouca esperança na sentença: / Um chuvisco, uma chuva e um relâmpago. ”