quinta-feira, 24 de abril de 2014

GENEALOGIA GAÚCHA.

Entrevista: Nélio J. Schmidt

Nélio J. Schmidt - Imagem: Arquivo pessoal do autor
Recentemente tivemos o prazer de entrevistar Nélio J. Schmidt, fundador do site GenealogiaRS e um grande genealogista ligado à pesquisa de famílias alemãs no Rio Grande do Sul. Nesta entrevista ele fala um pouco mais sobre o seu site, sobre a genealogia teuto-brasileira, os desafios ligados à pesquisa familiar e nos conta um pouco sobre a sua própria história.
Boa leitura!
MH - Nélio, você é o fundador do site GenealogiaRS. Poderia falar um pouco mais sobre o seu trabalho com o site, sobre os seus objetivos e futuros projetos?
NS- Sim, o site do GenealogiaRS foi criado por mim, incentivado por vários outros colegas de pesquisas, pois necessitava-se de uma ferramenta para divulgação das atividades e dos acervos que se estava produzindo.Assim, o GenealogiaRS - Pesquisas Teuto-brasileira Ltda. foi criado por mim e devidamente registrado, tendo em vista as necessidades de atender algumas questões legais. No início das nossas atividades - o primeiro encontro de ainda um pequeno grupo de quatorze  pesquisadores, aconteceu no 14 de abril de 2011 - houve manifestações dos colegas para que fosse criado um site.
O principal objetivo do grupo e suas ferramentas de contatos foi o de juntar vários pesquisadores que estavam com vontade de somar esforços nas trocas de informações e, principalmente, salvar os conteúdos de livros eclesiásticos do século 19, principalmente evangélicos/luteranos, que estão se deteriorando pelo tempo e uso.
Assim, entre alguns colegas, fomos às comunidade evangélicas/luteranas (IECLB E IELB) e passou-se a fotografar página por página, de todos os eventos contidos nos livros e estes então foram gravados em mídias, de forma adequada e ordenada, para servirem de fontes de pesquisas, poupando assim o livros. Às respectivas comunidades são doadas cópias destas mídias, para que façam uso em suas pesquisas. Este trabalho continua e tem para este ano de 2014 uma grande frente, pois com o novo equipamento que montamos para digitalizar os livros, vai render muito mais e pretende-se cobrir todo o estado do Rio Grande do Sul. Não sabemos ainda quando este grande projeto vai terminar, mas ele foi iniciado, está tendo continuidade e não vamos parar, pois o material que se tem conseguido digitalizar (por fotos) com todo o cuidado, de livros antigos escritos em alemão gótico, é uma grande fonte de pesquisas, que inclusive tem se enviado até para a Alemanha e USA.
Pesquisadores do grupo GenealogiaRS
Outro projeto muito importante, é o que chamamos de “tombamento digital” das lápides dos cemitérios, principalmente os antigos onde ainda se consegue encontrar lápides com registros de imigrantes. Estas lápides são limpas, se necessário, fotografadas e os seus registros digitados em planilhas, onde são completados e até corrigidos, pelos contidos nos livros que foram fotografados. Com este material completo, estão sendo montados livros digitais, em PDF pesquisáveis, para os interessados adquirirem.
MH - O foco da sua pesquisa é a genealogia teuto-brasileira. Quais são as peculiaridades deste grupo de famílias?
NS - O nosso foco são as famílias que entraram aqui no estado do Rio Grande do Sul uma vez que elas são na sua grande maioria, os ancestrais de colegas que frequentam nossos encontros mensais, o nosso fórum de e-mail e o Facebook, para fazerem as trocas, as correções e principalmente - o que nos destaca como grupo - as interações e justaposições de registros. Somos todos pesquisadores de suas próprias famílias, tendo isto como um hobby, e o que nos liga, são justamente os laços familiares, pois as vezes parece que a maioria de nós possuímos um grau de parentesco um com o outro.
MH - São vários os genealogistas gaúchos que tratam da imigração alemã. Há alguma espécie de ponto de encontro para todos eles ou cada um trabalha de forma individual?
NS - Sim, existem cerca de trezentos genealogistas. Alguns trabalham sozinhos, pois ainda não descobriram que “genealogia se faz em parcerias”, mas a maioria reúne-se com seus próprios núcleos familiares ou então em grupos de amigos.
O GenealogiaRS surgiu exatamente desta necessidade de juntar interessados, numa forma de trabalho semicoletiva, ou seja, capta-se de forma individual e/ou coletiva, e aquilo que é possível repartir sem ônus, acontece normalmente, e aquilo que existir eventuais gastos, ou se coopera nas despesas ou então os interessados adquirem de forma individual. A coisa funciona com liberdade e mútuo respeito.

Pesquisadores conferindo registros históricos

MH - Como começou o seu interesse pela genealogia?
NS - Eu fui um dos que, quando ainda adolescente, conheci o meu bisavô, que viveu mais de 90 anos e faleceu quando eu tinha 11 anos. Ele falava muito pouco sobre a sua juventude para os familiares, mas às vezes comentava que ele era um “alemão nato”.
No início do ano de 2011 passei a me dedicar mais às pesquisas e a procurar na internet. Logo encontrei algumas pessoas que estavam com parte da minha árvore quase pronta, e foi a partir daí que surgiu a ideia de nos reunirmos, para somar registros, pois vivíamos numa região em que os nossos imigrantes e os filhos destes, muitos se cruzaram em casamentos, ou seja, havia muitos laços de parentescos, até bem próximos. Foram tantas surpresas a cada encontro, que o grupo cresceu.

Nélio com o pai, avô e bisavô - Fonte: Arquivo pessoal do autor

MH - Conte um pouco sobre a sua própria história familiar.
NS - Bem, então partindo da minha curiosidade daquele pouco que o meu bisavô falava, tive a felicidade de encontrar pessoas amigas e dispostas a compartilhar e me ajudar na minha árvore. Assim, cheguei a minha tetravó que imigrou viúva, em 1846 com dois filhos e uma filha. Vieram de Kronweiler, Birkenfield,  Rheinland-Pfalz, Alemanha. O que se sabe até o momento, é que o seu marido falecera antes da viagem e que além disso ficaram para trás na Alemanha mais sete filhos. Quando a minha tetravó aqui chegou depois de uma viagem de uns cento e vinte dias, ela já com 46 anos de idade, adquiriu terras para ela e os filhos, numa bela região aqui no estado, chamada de Picada Café.
Foi indescritível a minha emoção, quando recebi estes registros de colegas. As minhas pesquisas não estão no fim, embora meio paradas, pois agora necessito ir a Kronweiler e verificar os registros de lá, tanto dos Schmidt como dos Kunz.
Assim, percebendo de que na ajuda mútua haviam grandes possibilidades para o sucesso das pesquisas, junto com alguns amigos resolveu-se de que era necessário, nos reunir mais vezes, e assim fizemos.

MH - Você trabalha em parceria com outros genealogistas ou parentes? Qual é o tamanho da sua árvore genealógica e quem é o antepassado mais remoto já encontrado?
NS - Além das pesquisas individuais, as parceiras com outros colegas pesquisadores são fundamentais. Por isso, a minha pesquisa pessoal, terminou se fundindo com a criação do próprio GenealogiaRS, onde hoje mais de cem colegas trocam informações, assistem palestras, exibições de filmes, visitas a museus, levantamentos cemiteriais e outras atividades relacionadas com a genealogia e a história da imigração alemã no Rio Grande do Sul. Até o momento, consegui chegar somente até a minha imigrante, nascida em 19/02/1800 e o filho dela, donde vem o meu ramo, ele nascido em 30/03/1832 na mesma localidade da sua mãe. Mas temos no nosso grupo, colegas que chegaram a beiram até os anos de 1300 com sua pesquisas.
MH - Qual foi o fato mais interessante que você conseguiu revelar com a sua pesquisa familiar?
NS - O que achei interessante, conforme constam em registros eclesiásticos, foi a vida da minha imigrante, que nunca mais casou, ajudou a criar seus netos, foi madrinha inúmeras vezes na comunidade que frequentava e viveu até os oitenta e nove anos. Ela veio ao Brasil junto com outra família, talvez afilhada dela, pois tinha exatamente o mesmo nome e esta era casada também com um Schmidt, e soube por relatos dos descendentes destes, que as duas foram muito amigas até seus últimos dias, tanto que foram enterradas bem próximas uma da outra, mas, infelizmente, um deslizamento cobriu parte do cemitério que existe até hoje.
MH - Que conselhos você daria para aqueles que estão começando agora a pesquisar as suas famílias?
NS - Primeiro, não façam as suas pesquisa sozinhos. Juntem-se a outros pesquisadores. Segundo, anotem tudo num caderno ou computador, juntem tudo o que é documentos, fotografias antigas.Terceiro, procures os seus avós, seus tios, conversem a respeito, procurando resgatar fatos, anotando ou gravando tudo. Muitas vezes, num pequeno detalhe, dito por alguém, está a chave de outras informações.Quarto,  procure os cemitérios onde estão enterrados seus ancestrais, limpe as lápides, ou as reforme se for o caso, pois nelas contem muitos registros. Manter estes locais em boas condições, é manter em nossas memórias as virtudes e tudo aquilo de bom que eles legaram aos seu filhos, netos, bisnetos e chegaram até nós.
MH - E para alguém que já anda pesquisando há algum tempo mas que não sabe como continuar sua pesquisa?
NS - Uma única dica, e fundamental, junte-se a outros pesquisadores. Pois sempre tem alguém em algum lugar, que está mais adiantado, ou até já passou por algo que se procura, ou, passou ao lado e viu. É muito comum se ouvir:
- “Você está procurando por este nome? Por que não me falou antes? Pois pesquisando um ramo da minha família encontrei estes que você procura”!
Ou seja, pesquisa genealógica não se faz sozinho.
Muito obrigada, Nélio por esta entrevista!
Se você quiser conhecer o site GenealogiaRS, clique aqui.

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