domingo, 10 de novembro de 2013

Toques de tambores, de emoções e da alegria das crianças.

Por João Bosco de Araújo
Jornalista  boscoaraujo@assessorn.com  
 
Foto arquivo Google/Escultura de Geicifran Assis Azevedo
Tem um dia na vida que ninguém espera e vem, de repente, àquela emoção! Foi o que me aconteceu na rua em que nasci e me criei como criança e na adolescência.
 
Sábado de manhã. Caicó, outubro, férias do trabalho, véspera de encerramento da Festa de Nossa Senhora do Rosário deste ano de 2013. O grupo dos Negros do Rosário saiu da igreja, formado por crianças, a menor de 5 anos, de estandarte nas mãos, e as maiores corriam e desciam, pisando levemente as pedras nuas da rua, ao som de tambores e, aqui e acolá, de aplausos de transeuntes admirados, numa coreografia espetacular, circulando sua majestade - o rei e a rainha - e toda a corte da tradição negra.
 
Fazer parte deste momento histórico foi uma experiência lúdica, com minha irmã Socorro realizando o sonho de ser Rainha da Irmandade do Rosário. Completando a “Corte Real”, meu irmão Gilberto, como Juiz, e eu, como Escrivão.
 
O outro momento estava por vir. Por mera coincidência, o trajeto do cortejo se desvia para passar na Rua Augusto Monteiro. Ninguém me avisara do inesperado itinerário. Também não esperava voltar no tempo, quarenta e mais anos atrás. Memórias representadas por brincadeiras de circo, bandinhas de lata, puro teatro de rua.
 
A corte negra seguia em frente. O homem assoprava sua pequena flauta ou pífano. Pequenos guerreiros seguravam suas lanças e em ritmo gigante pareciam sobrevoar como anjos sobre o calçamento quente da rua de minha memória.
 
Àquela mão se levanta, acenando da porta da casa. O dedo polegar levantado para cima, a se movimentar firmemente à mão fechada, sinalizando que me reconhecera. Nem uma palavra, apenas sorrisos. E nem precisava falar. Paulo Afonso, filho de Manoel Dantas, compartilhara de nossas brincadeiras no palco da nossa infância feliz. Emoção a tocar o semblante marcado pelo tempo.
 
Os tambores a retumbar, roncando e acelerando a energia dos Negros do Rosário, de 240 anos de tradição, paixão e fé nas ruas da nossa cidade.
 
©2013 www.AssessoRN.com | Jornalista Bosco Araújo

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