domingo, 7 de dezembro de 2014

06/12/2014 - 00:15
Ney Douglas/NJ
Antônio Arruda Câmara e Taciana com os doze filhos: um século de história na cidade de Nova Cruz
Não há como se falar da história da família Arruda Câmara sem se falar em Nova Cruz, assim como não há como se falar da história de Nova Cruz sem mencionar a família Arruda Câmara. Quando Antônio Arruda Câmara pisou pela primeira vez na chamada Rainha do Agreste, teve início um relacionamento de verdadeira simbiose que deixou suas marcas na história do clã e da cidade. Basta passar no município e ver a quantidade de prédios públicos nomeados com o sobrenome ou puxar conversa com seus habitantes para se verificar isso.

E agora, em 2014, essa história completa um século.
O já citado Antônio – que viria a ser conhecido como coronel Arruda Câmara ou, mais carinhosamente, Seu Arruda – esteve pela primeira vez em Nova Cruz no ano de 1914, em dia e mês incertos, no alto de seus 32 anos. Casado, com dois filhos (e um terceiro a caminho, no ventre de sua mulher Taciana) e com riquezas acumuladas depois de anos de trabalho administrando o seringal Guajarraã, no município amazonense de Lábrea, Antônio contraiu beribéri e, para convalescer, precisou escapar das terras alagadas e úmidas do Norte para o clima quente e seco do Nordeste. 

A escolha óbvia seria se estabelecer em Guarabira, na estado da Paraíba, onde vivia a família de sua mulher. No entanto, após visitar Nova Cruz sob conselho de um amigo, Antônio se encantou. Era lá que ele fincaria raízes.Das raízes fincadas, cresceu uma grande árvore cujo tronco se subdivide em vários galhos. Antônio e Taciana saíram do Amazonas já com Domício, o mais velho, e Lauro – o terceiro, Armando, que escapou do Norte ainda na barriga da mãe, nasceu em Guarabira. Depois de a família ter se estabelecido em Nova Cruz, seguiram-se nove filhos. 

São eles, do mais velho à mais nova: José, Antônio, Romildo, Hélio, Ivan, Rubem, Maria Nice, Martha e Terezinha.Enquanto sua própria família florescia, Seu Arruda também ajudou a desenvolver a cidade. Chegando em Nova Cruz, ele tratou de aplicar o dinheiro acumulado durante seus anos no seringal na construção de um enorme armazém que chegaria a praticamente monopolizar o comércio da cidade. Ainda recém-chegado, Antônio financiou com recursos próprios o calçamento da rua que ia da sua casa à igreja, embora não possuísse oficialmente qualquer função administrativa. 

Foi a primeira rua calçada de Nova Cruz e a primeira intervenção urbana no município que teve o dedo do Arruda. A influência que ele adquiriu na cidade se tornou grande a ponto dele ser nomeado prefeito provisório em 1930 por um homem com quem tinha desavenças políticas: Rafael Fernandes, interventor federal escolhido por Vargas para governar o Rio Grande do Norte no contexto da Revolução de 30. 
Sua gestão teve como marcas o ordenamento urbano e medidas para combater o histórico problema de falta de água no município – além de calçar diversas outras ruas, o prefeito Antônio construiu o prédio da prefeitura, o cemitério municipal, o açougue público, poços, açudes e diversos reservatórios de água.

Ao todo, foram oito anos enquanto prefeito nomeado – o primeiro mandato foi de 1930 a 1934, o segundo de 1945 a 1947. Com o fim do Estado Novo getulista e o retorno das eleições municipais, os adversários políticos de Antônio se mobilizaram para lançar um candidato próprio e acabar com o que denunciavam como sendo a “oligarquia dos Arruda Câmara”. Contudo, o apoio popular a Seu Arruda era grande e bastou para que o eleito fosse Lauro, seu segundo filho, que governou de 1948 a 1950, tendo renunciado antes do fim do mandato para se dedicar a uma bem-sucedida campanha a deputado estadual. 

Alguns anos mais tarde, Joanita – mulher de Lauro – se tornou a primeira mulher a ser prefeita do município, de 1958 a 1962, período no qual ganhou a alcunha de Mãe Gorda por causa de suas políticas sociais de assistência aos pobres. Hoje em dia, o prefeito de Nova Cruz é ainda outro Arruda Câmara – Cid, filho de Lauro, que está entrando no terceiro ano de seu terceiro mandato, tendo antes governado de 2001 a 2008. No total, até agora foram 26 anos com Nova Cruz sob liderança de um Arruda Câmara. O número é grande, mas não se pode usá-lo como parâmetro para avaliar a relação de mútua influência entre os Arruda Câmara e Nova Cruz – essa, afinal, já dura um século.

(*) Pedro Vale de Arruda Câmara é bisneto de Antônio Arruda Câmara

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