sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Somos descendentes de brancos, negros e indios. E quem duvida?

Transcrevemos o resumo da pesquisa do professor Helder Macedo pela sua importância no conhecimento de nossas origens. A propósito, temos um ex-governador do RN, José Cortez Pereira de Araújo, neto de uma índia, "Marica Pegado". a) o editor.
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Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
ÍNDIAS NA FORMAÇÃO DE FAMÍLIAS NA RIBEIRA DO SERIDÓ, SERTÃO DA 
CAPITANIA DO RIO GRANDE: O CASO DOS DANTAS CORRÊA 
Helder Alexandre Medeiros de Macedo 
Doutorando em História – UFPE e Bolsista CAPES 
RESUMO 
O trabalho discute a possibilidade de existência de mulheres índias na gestação de famílias da 
ribeira do Seridó, sertão da Capitania do Rio Grande, no século XVIII. Toma como objeto de 
investigação particular a família dos Dantas Corrêa, cujo patriarca, Caetano Dantas Corrêa, 
instalou-se com fazenda de criação de gado na fazenda Picos de Cima, às margens do rio 
Acauã, tributário do Seridó, na metade do Setecentos. Analisa as indicações fornecidas pelos 
estudos genealógicos tradicionais acerca da composição da família Dantas Corrêa, cujos 
descendentes encontram-se espalhados, nos dias de hoje, por praticamente todo o Seridó. Tais 
indicações são cotejadas com narrativas orais colhidas entre moradores de Carnaúba dos 
Dantas, Acari, Jardim do Seridó e Cruzeta, que trazem novos elementos, divergentes da 
história canônica, contada nos estudos genealógicos. A possibilidade de que Caetano Dantas 
Corrêa fosse neto, pelo lado materno, de uma índia da Paraíba e que, ele próprio, tenha tido 
um relacionamento com a índia Micaela, da Serra da  Rajada, indica que o processo de 
formação das famílias da ribeira do Seridó foi mais complexo do que os genealogistas 
regionais determinaram.  
PALAVRAS-CHAVE 
Seridó, índias, caboclas brabas, Dantas Corrêa 
 Apesar de manifestar certa visão fatalista em relação ao  desaparecimento  da 
população indígena da Capitania do Rio Grande do Norte após as Guerras dos Bárbaros,
1
                                                           
1
 Conflitos entre os indígenas e os colonizadores luso-brasílicos que, no âmbito da Capitania do Rio 
Grande, aconteceram entre a segunda metade do século XVII e começo do século XVIII. Para saber 
mais, verificar PIRES, Maria Idalina Cruz. Guerra dos Bárbaros: resistência e conflitos no Nordeste 
Colonial. Recife: Secretaria de Cultura, 1990 e PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos 
indígenas e a colonização do Sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720. 1998. 200p. Tese (Doutorado 
em História Social). Universidade de São Paulo. São Paulo. 2 
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Câmara Cascudo nos forneceu uma importante chave para a compreensão das mestiçagens 
entre os nativos e os conquistadores. Escrevendo na década de 1950, afirmou que “Inúmeras 
famílias-troncos do Seridó e oeste norte-riograndense tiveram avó-indígena, caçada a casco de 
cavalo, preferida pelo fazendeiro, mãe do filho favorito, vaqueiro exímio, multiplicador de 
fazendas”.
2
 Ao que nos parece, trata-se da primeira referência, na historiografia norte-riograndense, acerca dessas misturas que aconteceram nos primeiros tempos da implantação da 
pecuária, das quais resultaram filhos mestiços que tomaram conta do gado que passou a pastar 
nas ribeiras do Seridó e seus afluentes a partir do momento de montagem das fazendas – após 
a cessação, em definitivo, dos conflitos com os silvícolas.  
 Essa  avó-indígena  de que falava Câmara Cascudo corresponde à figura da  cabocla 
braba, pega a dente de cachorro e casco de cavalo, que é rememorada com frequência nas 
memórias de família quando se indaga, aos atuais moradores do Seridó, acerca de sua 
genealogia. Como caboclas brabas ficaram conhecidas, na memória familiar dos habitantes do 
Seridó, as índias
3
 que sobreviveram à dizimação durante as Guerras dos Bárbaros ou à 
escravização posterior
4
. Escondidas nos pés-de-serra ou nas suas chãs e homiziadas nas furnas 
e grotas, andando sozinhas ou em pequenos grupos, fugindo a todo tempo do alastramento da 
fronteira pastorícia, foram literalmente caçadas pelos conquistadores luso-brasílicos, que, 
montados em cavalos e com a ajuda de cães de caça,  conseguiram domar sua brabeza. Em 
alguns casos essas caboclas capturadas tornaram-se (de maneira forçada ou não) esposas ou 
                                                           
2
 CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2.ed. Rio de Janeiro: Achiamé; 
Natal: Fundação José Augusto, 1984, p. 43. 
3
 A partir de agora estaremos nos referindo às caboclas-brabas, no sexo feminino, pelo fato da maior 
incidência de relatos coletados entre os moradores do Seridó mencionarem mulheres índias que foram 
raptadas e amansadas. Isso não quer dizer que não hajam, também, relatos sobre caboclos-brabos (ver, 
por exemplo, SOARES, Gilberd; PEREIRA, Veranilson. Os caboclos brabos: memória de família e 
imaginário seridoense. Caicó: 2000. 39p., onde analisam testemunhos de índios que foram 
capturados). É possível, inclusive, que houvesse interesse em utilizar caboclos como mão-de-obra 
escrava nas fazendas de gado, visto a carência do elemento negro no sertão e mesmo o alto custo para 
adquiri-lo no começo do século XVIII. 
4
 Na ribeira do Jaguaribe, situada na vizinha Capitania do Ceará, o roubo de mulheres nativas era 
comum nos primeiros anos do século XVIII – roubo que era feito, inclusive, de índias que já tinham 
companheiros. Tal ato foi denunciado ao rei D. João V pelo desembargador Cristóvão Soares Reimão 
em carta de 13 de fevereiro de 1708. Reclamava a El-rei o desembargador que “Nessa Capitania do 
Searâ estão varios moradores com indias furtadas a seus maridos ha quatro, des, quinze anos sem lhas 
quererem Largar”, o que considerava matéria de “escandallo" (AHU-CE, Cx. 1, Doc. 55). Esse e 
outros aspectos da violência contra o índio, no cotidiano da Capitania do Ceará, são analisados por 
VIEIRA JÚNIOR, Antonio Otaviano.  Entre paredes e bacamartes:  história da família no sertão 
(1780-1850). Fortaleza: Edições Demócrito Rocha; São Paulo: Hucitec, 2004. p. 31-3.  3 
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concubinas dos primeiros colonizadores, donde nasceram os filhos mestiços que, por vezes, 
chegaram a tomar conta de suas fazendas de gado. A fuga para espaços ainda não apropriados 
totalmente pelos homens da pecuária, no fundo, manifestava uma atitude de resistência dos 
indígenas contra a ocidentalização, sendo prática comum ainda nas duas primeiras décadas do 
século XVIII, segundo a opinião do historiador Sinval Costa.
5
 Conforme os estudos pioneiros de Julie Cavignac, longe de serem classificadas como 
narrativas de natureza folclórica, as memórias sobre essas índias roubadas podem ser 
encaradas como representações do passado colonial que os moradores do Seridó dos dias de 
hoje construíram com base na rememoração de sua história familiar. Ao reconstruírem o 
caminho que agrega a errância das caboclas pelo sertão, seu apresamento pelos vaqueiros e a 
violência (sexual) da domesticação, os seridoenses  estariam estabelecendo uma versão 
mestiça da história de sua comunidade – diferente da história oficial, quase sempre triunfalista 
e deificadora de um conquistador luso-brasílico.
6
   
Em busca de maiores informações sobre as histórias  que narram o apresamento das 
caboclas-brabas, entramos em contato com narrativas que colhemos com seus descendentes 
nos municípios seridoenses de Acari, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Cruzeta, Currais Novos, 
Jardim do Seridó, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, São José do Seridó, São João do 
Sabugi e Serra Negra do Norte.
7
 De maneira geral, essas narrativas relembram o estado de 
“vida selvagem” em que estavam as caboclas, perambulando pelo mato, cozinhando em 
panelas de barro, colhendo mel de abelha e usando-o como alimento acessório junto à caça e 
aos frutos da caatinga e falando língua difícil de compreensão pelos “brancos”.
8
 O processo 
                                                           
5
 COSTA, Sinval. Os Álvares do Seridó e suas ramificações. Recife: edição do autor, 1999. p. 11. 
6
 CAVIGNAC, Julie. A índia roubada: estudo comparativo da história e das representações das 
populações indígenas no Sertão do Rio Grande do Norte. Caderno de História, v. 2, n. 2, p. 83-92, 
jul/dez. 1995, Natal. Um exame sobre as premissas metodológicas acerca do uso de narrativas orais e 
escritas em trabalhos com memória pode ser obtido em CAVIGNAC, Julie. Vozes da tradição: 
reflexões preliminares sobre o tratamento do texto narrativo em Antropologia. Mneme – Revista de 
Humanidades, v.1, n. 2, out./nov.2000. Nesse texto, a autora parte de diversos exemplos fornecidos 
por narrativas orais, dentre eles, os que estão ligados às histórias de caboclas brabas.  
7
 As narrativas (9) dos moradores de Carnaúba dos Dantas foram tomadas em entrevistas informais 
entre 1994 e 2003. As demais, relativas aos moradores de outros municípios (49), foram colhidas por 
alunos das disciplinas História do Rio Grande do Norte I e Seminário de História da América Latina I 
do Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, entre 2004 e 2005, quando 
lecionávamos no Campus de Caicó.   
8
 Dona Beatriz Alexandrina da Costa, de Parelhas, alude à “fala embuluada” que a cabocla-braba sua 
ancestral tinha ao ser encontrada pelos vaqueiros, da mesma forma que dona Josefa Rita de Araújo 
Azevêdo (também de Parelhas) e seu Francisco Castilho de Medeiros, de Lagoa Nova. Seu Manuel 4 
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de encontro dessas índias com vaqueiros e/ou fazendeiros, narram seus descendentes, 
geralmente ocorria nas proximidades de fontes d’água (olhos d’água, lagoas, poços) ou de 
serras
9
, caracterizado, em quase todos os casos, pelo uso  da violência para a “captura” das 
mulheres – daí o uso corrente, nas narrativas contemporâneas, da expressão “dente de 
cachorro e casco de cavalo” – e “domesticação”; o estado de “vida civilizada” a que as nativas 
eram submetidas. Estas deixavam de comer “insosso” e passavam a fazer parte da sociedade 
colonial e cristã – casando, em algumas vezes, com  os vaqueiros que lhes capturaram, ou 
vivendo como amásias dos fazendeiros que ordenaram a “pega” no mato.  
 Se atentarmos para o fato de que as memórias sobre as caboclas brabas remetem à 
época da colonização da ribeira do Seridó, podemos inferir que uma das razões para a procura 
das índias tenha sido, além da sua beleza, a escassez do elemento feminino no começo do 
século XVIII. Basta observar, por exemplo, que as fazendas de gado mais antigas do Seridó e 
que, segundo Olavo de Medeiros Filho, tiveram perpetuidade genealógica, somente foram 
edificadas após a década de 1720.
10
 É de se considerar, também, que algumas das esposas 
desses fazendeiros já chegaram à ribeira do Seridó casadas – ou, ao menos, tendo morado no 
litoral do Rio Grande, da Paraíba ou em Pernambuco.
Nas histórias colhidas em Carnaúba dos Dantas, Acari, Jardim do Seridó e Cruzeta 
uma personagem foi recorrente: uma índia pega nos arredores da Serra da Rajada, nominada, 
pela maioria dos narradores, de Micaela.
11
 Chamou-nos atenção, também, o fato de que essa 
índia aparece em várias fontes escritas e bibliográficas que tratam da história e da genealogia 
da família Dantas. Essas narrativas noticiam que o  coronel Caetano Dantas Corrêa (1710-
                                                                                                                                                                                     
das Caboclas (Manuel Jorge da Silva Filho), de Jardim do Seridó, também rememora a “fala 
arrastada” e o “jeito invocado” que tinha sua ancestral índia. É possível que se trate, nesses casos, de 
uma reverberação da linguagem falada pelos tapuias: a língua travada, que pronunciavam “tremendo o 
papo” (SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil em 1587, p. 338-9).  
9
 Os principais espaços lembrados pelos narradores como sendo os lugares da “pega” das caboclas 
foram: Serra de São Bernardo (antiga Serra de Samanaú), Serra da Rajada, Cacimba da Velha (nas 
serras de Santa Luzia), Totoró, Serra de João do Vale, Poço da Quixaba, Poço Salgado. Curiosamente, 
esses espaços são mencionados nos textos das sesmarias da primeira metade do século XVIII. 
10
 MEDEIROS FILHO, Olavo de.  Velhas famílias do Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado 
Federal, 1981. p. 3-4. A exceção é a fazenda da Cacimba da Velha, na ribeira do Quipauá, que já era 
habitada pelo casal Pedro Ferreira das Neves e a índia Custódia de Amorim Valcácer em cerca de 
1714. 
11
 A índia Micaela da Serra da Rajada foi referendada nos testemunhos orais de dona Cristina Dantas 
de Oliveira (Acari), dona Maria Teresa do Nascimento (Jardim do Seridó), seu Celso Nasário de 
Medeiros e dona Irene Hipólito Dantas (ambos de Carnaúba dos Dantas). Seu Anacreonte Pereira de 
Azevêdo Dantas, de Cruzeta, menciona uma índia que fugiu da Serra da Rajada em direção à de São 
Bernardo, dando-lhe o nome de Maria Madalena.  5 
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1797) teria pego a dente de cachorro e a casco de cavalo uma cabocla braba que batizara 
posteriormente como Micaela, a qual estava desgarrada nas cercanias da Serra da Rajada 
(hoje, essa serra fica localizada entre os municípios de Carnaúba dos Dantas, Acari, Parelhas e 
Jardim do Seridó). Contam que a mesma, por ser muito arredia, foi trancada e amarrada em 
um quarto e que, ao receber a comida em um prato, cuspia-o e o arremessava de volta. Teria 
sido amansada por Caetano Dantas, com quem casara depois e tivera filhos, dos quais 
descendem os Dantas Corrêa que povoaram a ribeira do Seridó.   
 A história oficial, no entanto, discorda dessa versão. Historiadores e genealogistas que 
escreveram sobre essa família na ribeira do Seridó afirmam que Caetano Dantas Corrêa casou 
com dona Josefa de Araújo Pereira, filha do português Tomaz de Araújo Pereira e de Maria da 
Conceição de Mendonça, de cujo casamento nasceu a quantidade de dezenove filhos, tendo se 
conservado dezessete. Dentre estes, o primeiro rebento de que se tem conhecimento, nascido 
em 1753, foi Micaela Dantas Pereira (Micaela Dantas Corrêa, forma também encontrada em 
outros documentos). Esta casaria posteriormente com Antonio de Azevêdo Maia (2º), dando 
origem ao ramo dos Azevêdo Dantas no Seridó
12
. Estaria aqui, na coincidência entre o nome 
da índia e o da filha mais velha de Caetano Dantas, a explicação para o problema? Seria 
Micaela apenas a filha do velho patriarca?   
 Vejamos o que historiadores da primeira metade do século XX afirmaram sobre o 
tema. Num artigo intitulado  Os nossos primeiros povoadores,  no jornal manuscrito  O 
Momento (1924), José de Azevêdo Dantas criticou veementemente um trecho da Revista do 
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte que apregoava o seguinte acerca de 
Caetano Dantas Corrêa:  
(...) constituio se o mais frondoso tronco da mais  numerosa familia 
seridoense, casando-se, ao acaso, com uma índia encontrada nos sopés da 
serra da Rajada, a qual fez baptisar com o nome de Michaela Dantas Correia. 
Dos filhos deste casal tiveram descendência que se destacou, entre outros, 
Manoel Antonio Dantas Correia e Michaela Dantas Correia Filha. Aquelle 
foi o avô do Conselheiro Britto Guerra, esta foi a  esposa do portuguez 
Antonio de Azevedo (...).
13
                                                           
12
 MEDEIROS FILHO, Olavo de.  Velhas famílias...,  p. 116; AUGUSTO, José.  Seridó.  Rio de 
Janeiro: Borsoi, 1954. p. 131.  
13
 RESPOSTAS aos questionários do Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico, pelo Município 
de Jardim do Seridó. Revista do IHGRN, v. XVII, n. 1 e 2, Natal, p. 90.  6 
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 A crítica de José de Azevêdo Dantas foi direcionada à informação sobre Micaela 
Dantas. Segundo ele, havia “flagrante engano” sobre ela “ter sido uma índia bravia, e depois 
esposa do Cel. Caetano Dantas Correia”. Fundamentando-se em “documentos comprobatórios 
da verdade colhidos de fontes insuspeitas” e em outro artigo da mesma revista – tratando da 
genealogia do Dr. Luiz Gonzaga de Britto Guerra –, José de Azevêdo Dantas atestou que 
Caetano Dantas fora casado com Josefa de Araújo Pereira, de cujo casamento nasceu Micaela 
Dantas, casada com Antonio de Azevêdo Maia (2º).
14
 O autor não desacreditava da existência 
da índia Micaela – apontada pela tradição –, apenas não a considerava como tendo desposado 
Caetano Dantas. Sua análise sobre o tema estava fortalecida, também, no depoimento de uma 
“fonte auctorisada”: o coronel Quincó da Rajada (Joaquim Paulino de Medeiros, 1844-1932), 
“(...) nobre descendente dessa linhagem, que, de uma vizão fértil de memórias e tradições 
conhece a fundo todos os precedentes attribuidos á  vida e personalidade (...)” de Caetano 
Dantas.  
 A versão que José de Azevêdo Dantas construiu para a captura da indígena, tomando 
como base o relato do coronel Quincó, garantia que Micaela foi encontrada nos derredores da 
Serra da Rajada pelos vaqueiros de Caetano Dantas, que a domesticou, a educou e a casou, 
posteriormente, com um seu descendente: 
Narram que essa “índia” desgarrada de sua tribu, que fugira 
precipitadamente para as mattas do Apody com a aproximação dos 
“brancos”, resistiu heroicamente a acção dos seus perseguidores que 
montados em fogosos cavallos conseguiram captural a com o auxilio de seus 
valentes cães de caça. Ella era de uma “brabeza” indomável, e so em virtude 
do espirito superior e dominador do velho Caetano Dantas tornou-se ella 
mais tarde a meiga, a leal cria de casa. Caetano Dantas, criou a, não como 
escrava e sim como filha.
15
  
 Voltaremos, ainda, à narrativa colhida e escrita por José de Azevêdo Dantas. Por 
enquanto, ocupemo-nos do que escreveu o desembargador Phelippe Guerra em suas “Notas 
Genealógicas”, produzidas provavelmente na década de 1930.  Nessas notas são citadas duas 
publicações que aludiram ao que o autor refere-se como a “lenda” da “selvagem Michaela, da 
serra da Rajada”: a primeira, a coluna “Gaveta de Sapateiro”, de Viriato Correia (sob o 
                                                           
14
 DANTAS, José de Azevêdo. Os nossos primeiros povoadores. O Momento: jornal dedicado aos 
interesses da vida sertaneja, n. 3, p. 50, 1924, Acari.  
15
 DANTAS, José de Azevêdo. Os nossos primeiros povoadores. O Momento..., p. 51. 7 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
pseudônimo de Frei Caneco), publicada no “Jornal do Brasil” de 15 de abril de 1932
16
; a 
segunda, o mesmo texto da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do 
Norte já aludido por José de Azevêdo Dantas.
17
 Em ambas as publicações são feitas alusões à 
índia Micaela, que teria sido pega por Caetano Dantas Corrêa na Serra da Rajada e com quem 
teria se casado, nascendo, dessa união, uma filha homônima, de nome Micaela Dantas Corrêa 
Filha. Phelippe Guerra, com base em informações fornecidas por documentos cartoriais, 
contesta de forma incisiva a união de Caetano Dantas com a índia Micaela e, ao final, 
arremata:  
Do que fica exposto sobre Caetano Dantas correia vê não ser verdadeira a 
affirmação de haver elle casado com a selvagem Michaela, da serra da 
Rajada, e que teve uma filha do mesmo. Sua mulher Jozefa de Araújo 
Pereira era filha do portugues Thomaz de Araujo Pereira. É certo que esse 
casal teve uma filha Michaela (...).
18
 As opiniões de José de Azevêdo Dantas e de Phelippe Guerra, emitidas nas décadas de 
1920 e 1930, respectivamente, enfatizam, assim, o casamento de Caetano Dantas com dona 
Josefa de Araújo, filha do português Tomaz de Araújo Pereira. Essas opiniões podem ser 
entendidas como ecos de um discurso eurocentrado, que se preocupava em enaltecer os 
personagens herdeiros da cultura europeia em detrimento de outras culturas. Esse discurso 
fica bem claro no trecho do artigo de José de Azevêdo Dantas em que o autor contrapõe a 
“brabeza” indomável de Micaela ao “espirito superior e dominador do velho Caetano Dantas”, 
de cuja equação resultou a domesticação da índia e sua inclusão, como “cria de casa”, nos 
serviços da morada do patriarca dos Dantas Corrêa. A probabilidade, em nossa opinião, é de 
que Caetano Dantas tivesse com a índia Micaela um relacionamento paralelo ao casamento 
oficial com Josefa de Araújo – possivelmente, até antes do casamento –, como era comum na 
sua época.
19
 Eni de Mesquita Samara, estudando a família brasileira, constatou que na 
sociedade colonial era avultado o número de relacionamentos, nos diversos estratos sociais, 
                                                           
16
 CANECO, Frei. Gaveta de Sapateiro. Jornal do Brasil, 15 abr 1932, p.5.  
17
 GUERRA, Phelippe. Caetano Dantas Correia. Notas Genealógicas. [s.l.]: 193-, p. 8-8v. 
18
 GUERRA, Phelippe. Caetano Dantas Correia. Notas Genealógicas, p. 13. 
19
 Ver, acerca do tema das relações ilícitas dos colonos na América portuguesa, sobretudo envolvendo 
índias e negras, os estudos de ARAÚJO, Emanuel. O teatro dos vícios: transgressão e transigência na 
sociedade urbana colonial. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1993. p. 235-51 e de VAINFAS, 
Ronaldo. Moralidades brasílicas. In: SOUZA, Laura de Mello e (org.). História da vida privada no 
Brasil 1: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 
221-73.  8 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
que não precisavam do favor da Igreja para existir.
20
 Tratando da temática e discutindo o 
casamento no período colonial, Mary del Priore nos lembra que entre a maioria da população  
(...) o arranjo afetivo mais comum era o concubinato. Os casamentos em 
geral não eram legalizados, mas permitiam criar os  filhos com alguma 
segurança e dividir as dificuldades materiais da vida. A Igreja tinha atitudes 
ambíguas diante da realidade colonial de africanos arrancados às famílias em 
sua terra natal,  índias vivendo como amantes de brancos e poucas 
mulheres brancas disponíveis para o casamento”.
21
 (grifos nossos)  
As narrativas orais sobre a índia Micaela, assim, nos informam acerca do choque entre 
dois universos diferentes: de um lado, o indígena, por meio da referência à cabocla braba que 
habitava na Serra da Rajada; de outro, o dos conquistadores, interessados nos solos das 
ribeiras sertanejas para a finalidade da criação de gado. Em meio ao choque, o trágico 
extermínio dos índios que habitavam nas cercanias e, no caso dos sobreviventes, a sua captura 
“a casco de cavalo” – numa remissão ao uso de equinos por vaqueiros ou sesmeiros para o 
apresamento de índios e índias arredios à colonização. Denunciadora da violência usada na 
empreitada de colonização das terras situadas na ribeira do Seridó e de seus afluentes, a 
narrativa envolvendo a captura da indígena nos parece, por outro lado, a lembrança de que 
essa região tinha habitantes antes da chegada dos conquistadores. Populações essas a quem foi 
negado, com a vitória do projeto ocidental e consequente interiorização da pecuária, o direito 
de manter seus próprios territórios, adorar seus deuses e até mesmo de conviver segundo seus 
padrões societários.  
A história da índia Micaela, portanto, indica que a entrada dos colonizadores no sertão 
se deu quando a presença nativa ainda era evidente. Considerando que as narrativas aludem à 
captura da nativa nos arredores da Serra da Rajada e que Caetano Dantas iniciou a montagem 
de suas fazendas de gado na ribeira do Seridó, aproximadamente, em 1750, é presumível que 
o episódio de Micaela possa ser situado, historicamente, nessa época. Duas famílias cujos 
troncos estavam ligados a mulheres índias, antes dessa época, já tinham se enraizado pelos 
                                                           
20
 SAMARA, Eni de Mesquita. A família brasileira. 4.ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 41-56. 
Mary del Priore confirma essa alocução quando diz que “A maioria da população [ colonial ] vivia em 
concubinato ou em relações consensuais, apesar de a Igreja punir os recalcitrantes com admoestações, 
censuras, excomunhões e prisões” (PRIORE, Mary del. Ritos da vida privada. In: SOUZA, Laura de 
Mello e (org.). História da vida privada no Brasil 1..., p. 312). 
21
 PRIORE, Mary del. Religião e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1997. p. 34-5.  9 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
sertões das Capitanias do Norte: a dos Medeiros
22
 e a própria Dantas Corrêa, donde proveio 
Caetano Dantas, sobre a qual discorreremos.  
 O historiador Olavo de Medeiros Filho, em seu tratado sobre as Velhas famílias do 
Seridó, noticiou que a mãe de Caetano Dantas, Isabel da Rocha Meirelles, “era filha de 
Manoel Vaz Varejão e, segundo a tradição familiar,  de uma indígena, sendo natural da 
freguesia da Paraíba”.
23
 O autor baseou-se nas “Notas Genealógicas” de Phelippe Guerra, que, 
todavia, não ligam a pessoa de Manuel Vaz Varejão à índia da Paraíba: 
- Um fidalgo Dantas, primo de D. Jozé, rei de Portugal, teve relações com 
uma indigena, daqual teve uma filha, que levou para Portugal, onde foi 
educada. A filha do fidalgo Dantas, mais tarde, regressou ao Brasil, onde se 
casou com um pernambucano. Desse consorcio teve três filhos (...).
24
 Os três filhos citados na narrativa eram Caetano Dantas, Estevam Dantas e “outro que 
constituiu familia em Piancó, Parahyba”, segundo a  versão que foi repassada pelo Coronel 
Silvino Bezerra, de Acari, a Phelippe Guerra. Para  este último, baseado em “(...) dados 
authenticos
25
, e por informações outras (...)”, Isabel da Rocha Meirelles seria “(...) natural da 
cidade da Parahyba, (...) filha legitima de Manoel  Vaz Varejão.”
26
 Duas informações 
importantes emergem do texto do desembargador: a de que Isabel da Rocha era natural da 
                                                           
22
 Sobre a descendência do português Pedro Ferreira das Neves e da índia Custódia de Amorim 
Valcácer, donde provém os Medeiros da Ribeira do Seridó, verificar MEDEIROS FILHO, Olavo de. 
Velhas famílias..., p. 11-105. 
23
 MEDEIROS FILHO, Olavo de. Velhas famílias..., p. 116. 
24
 GUERRA, Phelippe. Caetano Dantas Correia. Notas Genealógicas, p. 8. 
25
 Citando a fonte de onde extraiu essas informações sobre a ascendência de Caetano Dantas, Phelippe 
Guerra afirmou que “Entre apontamentos que me foram fornecidos, em 1927, pelo senhor Manoel 
Etelvino de Medeiros, de Caicó, vieram uns, escriptos em uma folha de papel, e que não foram 
completados, parecendo escriptos já muito anteriormente, e que disse ter obtido de um seu velho 
parente, octogenário” (GUERRA, Phelippe. Caetano Dantas Correia. Notas Genealógicas, p. 90). Tais 
informações foram utilizadas pelo autor das “Notas  Genealógicas” para a composição do item 
referente a Caetano Dantas, sua ascendência e descendência. Analisando o teor e a estrutura dos 
apontamentos do senhor Manuel Etelvino de Medeiros, transcritos por Phelippe Guerra no anexo de 
suas “Notas Genealógicas”, percebemos que se trata do mesmo texto do manuscrito de Manuelzinho 
do Navio, produzido em 1909, que discutimos no capítulo anterior (LABORDOC, Fundo José 
Augusto Bezerra de Medeiros, Caixa 481. SILVA, Manuel Maria do Nascimento. Genealogia dos 
nossos antipassados referentes aos differentes ramos de nossa ascendencia q.
e
 são = Medeiros, 
Araújos, Dantas e Silvas. Fazenda do Navio, 16 jul  1909). É possível, assim, que o “parente 
octogenário” de Manuel Etelvino de Medeiros fosse o coronel Manuel Maria do Nascimento Silva.  
26
 GUERRA, Phelippe. Caetano Dantas Correia. Notas Genealógicas, p. 9. 10 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
Paraíba e a de que era filha legítima, ou seja, de casamento sacramentado pela igreja. Mas, 
quem era Manuel Vaz? E sua esposa? Seria uma índia, como rezava a tradição?  
 Encontramos Manuel Vaz Varejão requerendo terras a título de sesmaria entre as 
décadas de 1710 e 1720 em território que, a partir  da metade do século, faria parte da 
circunscrição da Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó.
27
 A primeira sesmaria 
foi obtida em 1719, junto ao governo da Capitania da Paraíba, com a intenção de criar gados 
entre a serra do sítio Pau-a-Pique e a Caiçara de Cima, no rio das Piranhas – em cujo sertão o 
sesmeiro era morador.
28
 Dois anos depois, residindo na ribeira do Espinharas, foi agraciado 
com mais três léguas de comprimento por uma de largura nessa ribeira, considerando que 
tinha “quantidade de gado” e não possuía “terras para o situar e crear”. Nessa época já tinha a 
patente de alferes e, no texto do requerimento da sesmaria, evidenciou um importante detalhe 
do seu currículo, o de que havia combatido os nativos sublevados nas Guerras dos Bárbaros: 
“(...) e porque no levante do gentio descobrio o suplicante andando nas guerras um riacho, 
que desagoa no rio das  Espinháras (...)”
29
 – riacho esse que ficava nas confrontações das 
terras dos Marques de Souza e dos Oliveira Lêdo, nas ribeiras do Quipauá e Espinharas, 
respectivamente. Nas narrativas familiares conhecidas, o nome de Manuel Vaz Varejão como 
pai de Isabel da Rocha figura apenas nos apontamentos de Phelippe Guerra
30
 e no manuscrito 
anônimo sobre a genealogia dos Dantas Corrêa.
31
   
 No que diz respeito à índia da qual teria nascido  Isabel da Rocha, a busca por 
informações é ainda mais complicada. Tanto por não existirem mais os registros paroquiais da 
antiga Freguesia de Nossa Senhora das Neves da Cidade da Paraíba, como pelo fato dessa 
linhagem nativa estar ratificada, apenas, pela tradição oral. Contudo, um caminho possível 
para investigar essa ascendência é caminhar pelos meandros do processo que levou o capitão 
Antonio Dantas Corrêa de Góis, neto de José Dantas e Isabel da Rocha, a tornar-se Familiar 
do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa, em 1804. Os familiares eram agentes leigos que, 
                                                           
27
 Criada em 1748 e desmembrada da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó, o 
curato de Santa Ana do Seridó abrangia terras das capitanias do Rio Grande e Paraíba. Sua sede ficava 
na Povoação do Seridó (hoje, Caicó).  
28
 CPB, Sesmaria nº 159 – 1719. TAVARES, João de Lyra Apontamentos para a História 
Territorial da Parahyba [ 1909 ]. 2.ed. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1982. p. 109. 
29
 CPB, Sesmaria nº 176 – 1721. TAVARES, João de Lyra Apontamentos..., p. 116. 
30
 GUERRA, Phelippe. Caetano Dantas Correia. Notas Genealógicas, p. 9.  
31
 ANÔNIMO.  Genealogia da familia Dantas.  Acervo particular de D. José Adelino Dantas, 
Carnaúba dos Dantas, RN,  p. 1. Nesse texto, Isabel da Rocha Meireles também  é colocada como 
“parahybana” e filha legítima de Manuel Vaz Varejão.  11 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
sem deixar de lado suas atividades profissionais, prestavam serviços à “(...) Inquisição nas 
suas investigações, prisões e outras acções pedidas nas instruções dos comissários ou 
directamente de Lisboa.”
32
  
 Capitão Anta, como era mais conhecido Antonio Dantas Corrêa de Góis (1750-1826), 
era natural da Cidade da Paraíba e filho do sargento-mor José Dantas Corrêa (2º) e de Tereza 
de Góis e Vasconcelos; sobrinho legítimo de Caetano Dantas Corrêa, portanto, pelo lado 
paterno. Casou, em 1792, com Josefa Francisca de Araújo, natural da Freguesia do Cariri de 
Fora, sendo esta filha de João de Araújo Almeida e Maria Francisca Benedita. Antes disso, 
provavelmente na década de 1770, havia se estabelecido com fazenda de criar gado no lugar 
Piedade, nas proximidades da atual Serra do Teixeira – à época, conhecida como Serra do 
Rosário. Posteriormente adquiriu, por compra a Antonio de Araújo Frazão, terras no Olho 
d’Água dos Canudos, na Serra do Teixeira, onde passou a viver com a família e manter a 
atividade de criador. Em 1795 o Capitão Anta e dona Josefa Francisca doaram duas sortes de 
terra para ser erigido um templo em honra a Santa Maria Madalena, que foi bento 
oficialmente em 1809 e do qual Antonio Dantas Corrêa de Góis foi administrador até seu 
falecimento. Essa capela constituiu-se em elemento de coesão de pessoas para a Povoação dos 
Canudos, que, posteriormente, seria elevada ao status de Vila do Teixeira.
33
   
 Mais do que fazendeiro e benfeitor da Capela de Santa Maria Madalena, Antonio 
Dantas Corrêa de Góis também almejou, para si e sua esposa, a qualificação de Familiar do 
Santo Ofício, num processo que se iniciou em 1801 e somente foi concluído em 1804.
34
 Para 
ser familiar e prestar auxílio à Inquisição, denunciando aqueles que cometiam crimes contra a 
fé, os candidatos deveriam: demonstrar ter recursos financeiros que lhe permitissem viver de 
forma abastada; nunca terem sido presos ou penitenciados pela Inquisição; serem cristãosvelhos, “limpos de sangue”, sem nenhuma “infâmia pública” e demonstrar que as esposas, no 
caso daqueles candidatos já casados, também atendiam todos esses requisitos. Além disso, 
                                                           
32
 HIGGS, David. Familiar do Santo Ofício. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (coord.). Dicionário 
da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994. p. 332.  
33
 DANTAS, Fábio Lafaiete; DANTAS, Maria Leda de Resende. Uma família na Serra do Teixeira: 
elenco e fatos. Recife: Liber, 2008. p. 90-5.  
34
 ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António Dantas Corrêa de Góis, 
mç. 203, doc. 3025. Deligencias sobre á geração, vida, e Costumes do Capp.am Antonio Dantas 
Correa Góes n.al da Freg.a de N. Snr.a das Neves da Cidade de Paraiba, e m.or nas dos Pattos, tudo do 
Bispado de Pernambuco: Cazado Com Donna Jozefa Francisca de Araujo. A partir de agora, todas as 
remissões aspeadas serão retiradas deste documento.  12 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
segundo Daniela Calainho, os fiéis que pleiteassem  receber a familiatura do Santo Ofício 
também deveriam 
(...) se afastar de pessoas suspeitas, não aceitar delas “dádivas ou presentes”, 
e também não deveriam comprar “mercadorias ou mantimentos por preço 
menor do ordinário”, nem pedir emprestado à “gente de nação” ou contrair 
dívidas “que possam causar queixas e diminuir a autoridade que a suas 
pessoas e ofício é devida”.
35
  
 Essas prerrogativas faziam parte da investigação que o próprio aparelho da Inquisição 
montava para ter acesso a informações do presente e do passado dos candidatos. Ser familiar, 
dessa maneira, era corresponder às aspirações de uma sociedade hierarquizada cujos valores 
eram medidos por meio de critérios étnicos e religiosos, isto é, os candidatos ao trabalho junto 
ao Santo Ofício deveriam provar que eram “limpos de sangue”, sem “infâmia pública 
alguma”, como já comentamos. No âmbito dos territórios do Império Colonial Português, 
dessa maneira, ser familiar era sinônimo de ser branco e cristão-velho e, dizendo de outra 
maneira, de não ser membro – ou descendente – de “(...) grupos portadores do estigma da 
‘raças infectas”, como então se dizia: os judeus, cristãos-novos, negros, mulatos,  índios e 
ciganos (grifo nosso).”
36
 Tendo em vista essas admoestações e partindo do pressuposto de que 
Antonio Dantas Corrêa de Góis deveria destrinçar sua genealogia perante a Inquisição, 
poderíamos obter – ou não – a confirmação de sua ascendência indígena.  
 O Capitão Anta informou que era filho do Sargento-mor José Dantas Corrêa (2º) e de 
Tereza de Góis e Vasconcelos; neto paterno de José Dantas Corrêa e Isabel da Rocha Meireles 
e neto materno de Lourenço de Góis e Vasconcelos e Maria de Araújo, “(...) todos naturaes e 
moradores da ditta Cidade da Parayba Bispado de Pernambuco”. Os nomes de seus ancestros, 
a princípio, foram cruzados com os repertórios da Inquisição em Lisboa, Évora e Coimbra, 
“(...) não se achando delato de culpa alguma (...)” que pudesse lhes ser imputada. Do outro 
lado do Atlântico, na casa do padre Manuel da Costa Palmeiro – comissário e delegado do 
Santo Ofício – situada na Povoação dos Patos, da Freguesia de Nossa Senhora da Guia, o 
Capitão Anta foi inquirido judicialmente acerca da sua geração, vida e costumes. Para tanto, 
além de sua palavra, arrolou doze testemunhas, “(...) Christãs, antigas, fidedignas, e mais 
                                                           
35
 CALAINHO, Daniela Buono.  Agentes da fé:  familiares da Inquisição Portuguesa no Brasil 
colonial. Bauru: Edusc, 2006. p. 42.  
36
 CALAINHO, Daniela Buono. Agentes da fé..., p. 46.  13 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
noticiosas (...)” que poderiam legitimar o seu lugar de aspirante a Familiar do Santo Ofício, 
todas moradoras na Freguesia de Nossa Senhora da Guia dos Patos, que era, também, seu 
domicílio religioso.  
 Todas as testemunhas falaram a favor de Antonio Dantas Corrêa de Góis, confirmando 
o que ele havia declarado ao Santo Ofício sobre seus antepassados, sua capacidade econômica 
de ser familiar e suas virtudes de fé. Entretanto, por exigência do inquisidor Francisco Xavier 
de Oliveira da Mata, o habilitando também deveria apresentar certidões comprobatórias de 
batizados e casamentos, extraídas dos livros da freguesia de origem, para todas as pessoas 
arroladas na diligência, isto é, ele próprio e esposa, pais e avós. É nesse ponto onde as 
informações fornecidas por Antonio Dantas Corrêa de Góis no processo entram em 
contradição com o conhecimento que dispomos hoje.  
 A primeira incongruência diz respeito à naturalidade de seu avô paterno, José Dantas 
Corrêa. Segundo os estudos genealógicos que discorreram sobre a família Dantas, este último 
era de origem lusitana, natural da Vila de Barcelos, do Arcebispado de Braga.
37
 Esse informe 
sobre a origem reinol de José Dantas aparece no texto anônimo “Genealogia da familia 
Dantas” e nas “Notas Genealógicas” de Phelippe Guerra, cujos autores, acreditamos, podem 
ter tomado como fonte um registro de batizado de algum neto de Caetano Dantas no acervo da 
Freguesia de Santa Ana do Seridó.  
 Existem dois indícios que nos levam a crer que a informação dada pelo Capitão Anta 
acerca da origem de seu avô fosse um dado discordante da realidade. O primeiro é fornecido 
pela sua própria diligência de habilitação a familiar. Dois sacerdotes da Freguesia de Nossa 
Senhora das Neves, da Cidade da Paraíba, estiveram  fazendo buscas nos arquivos, para 
atender às exigências do inquisidor em termos das certidões comprobatórias de batizados e 
casamentos dos homens e mulheres envolvidos no processo de habilitação: o vigário 
encomendado Manuel Antonio da Rocha, também Comissário do Santo Ofício, em 1801, e o 
                                                           
37
 AUGUSTO, José.  Seridó,  p. 126, informa “(...) com segurança, que Caetano era filho de José 
Dantas Correia e Isabel da Rocha Meireles, ela paraibana e êle, a acreditar na tradição, português, 
senhor do engenho Fragoso, nas proximidades do Recife (...)”, dado confirmado por DANTAS, José 
Adelino. Homens e fatos do Seridó antigo. Garanhuns: O Monitor, 1962. p. 75. Olavo de Medeiros 
Filho, no final da década de 1970, declarou que “José Dantas Correia era natural da Vila de Barcelos, 
no Minho, Arcebispado de Braga, no Reino de Portugal” (MEDEIROS FILHO, Olavo de. A família 
do genearca Caetano Dantas Correia. In: DANTAS, José Adelino. O coronel de milícias Caetano 
Dantas Correia – um inventário revelando um homem. Natal: CERN, 1977. p. 71). Tal notícia foi 
confirmada em MEDEIROS FILHO, Olavo de. Velhas famílias..., p. 116. 14 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
prior José Elias de Carvalho, em 1802. Este último, em resposta ao requerimento de Antonio 
Dantas Corrêa de Góis sobre o batistério de seu avô paterno, respondeu, em 1802, que  
(...) revendo os Livros dos assentos dos batysmos desta freguezia de N. 
Senhora das Neves da Cid.
e
 da Par
a
 do norte não consta do assento de Joze 
Dantas avo paterno do Sup
te
 nem achar pesoa alguma q me dese noticia 
dos nomes dos seos pais por donde podese procurar o dito asento por serem 
muy antigos e já terem mais de cem anos (...) (grifos nossos) 
O padre Manuel Antonio da Rocha, um ano antes, já havia informado a Antonio Dantas que 
não havia achado o batizado de seu avô paterno, mas, recorrendo aos livros de casamento da 
freguesia, “(...) em hum delles a p. 39v. achei q.
o dito Jozé Dantas Correia no anno de mil, 
sete centos, e honze fora Padrinho com Domingos Siqueira da Sylva no Cazamento de 
Matheos Bizerra da Costa com Anna de Abreu Maciel (...)”. Dado não muito útil para os 
encarregados da investigação sobre as gerações precedentes do Capitão Anta, interessados 
que estavam na certificação de que seu avô era, como ele havia afirmado no início do 
processo, natural da Cidade da Paraíba.  
 O segundo indício de que essa informação era desencontrada nos é fornecido pelas 
pesquisas do padre António Júlio Limpo Trigueiros em fontes paroquiais da Vila de Barcelos. 
Nessa documentação os sobrenomes “Dantas Corrêa” e  “de Antas Corrêa” são utilizados, 
alternadamente, para a nomeação dos membros dessa família. Por meio dessas pesquisas a 
comunidade de genealogistas brasileiros tomou conhecimento de que José Dantas Corrêa era 
filho de Antonio de Antas Corrêa (1627-1686) e de dona Maria da Costa de Aguiar (falecida 
em 1682), tendo nascido em 1652. Seus pais moraram, até 1660, na rua Nova, território da 
Vila de Barcelos, passando a ocupar, posteriormente, a Quinta da Torre de Corubelo, em São 
Tiago de Poiares, no Concelho de Ponte do Lima. Membro de uma família de dez irmãos, a 
última referência de José de Antas Corrêa – nome utilizado no Reino – em Portugal é de 
1670, quando foi padrinho da irmã Madalena.
38
 Posteriormente a esse evento teria migrado 
para as terras da colônia portuguesa na América e se estabelecido como senhor de engenho no 
litoral da Capitania de Pernambuco e anexas.  
                                                           
38
 TRIGUEIROS, António Júlio Limpo. Dantas Correia e Castro Negreiros da Casa da Torre de 
Corubelo, em Poiares (Ponte do Lima) e da Casa da Igreja, em Arcozelo (Barcelos) – Genealogia: 
descendência de Belchior Dantas Correia e de D. Catarina de Santiago. Lisboa: [s.n.], 2007. p. 13-7.  15 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
 No que diz respeito ao processo de candidatura a familiar do Santo Ofício encabeçado 
por Antonio Dantas Corrêa de Góis, a segunda incongruência está relacionada à origem de 
Isabel da Rocha Meireles – a crer, pela tradição, filha de Manuel Vaz Varejão e de uma índia. 
Promovendo busca nos arquivos eclesiásticos da Freguesia de Nossa Senhora das Neves, 
novamente o padre Manuel Antonio da Rocha não encontrou o assento que procurava e assim 
se pronunciou: 
Certifico, que revendo os Livros de Bautismos dos mais antigos da 
Freguezia, não achei o asima requerido [o batizado  da avó paterna de 
Antonio Dantas Corrêa de Góis, Isabel da Rocha Meireles],  por não 
declarar, filha de que Pays, asim no anno de mil seis centos, e noventa e 
seis a 48v. do theor seguinte. Aos desaceis de Fevereiro de mil seis centos, e 
noventa e seis com licença do Reverendo Vigario bautizou o Padre Frei João 
de St.
o
 Elias, Religioso de Nossa Senhora do Carmo em Nossa Senhora da 
Guia, a Izabel, filha legitima de Antonio Pereira,  e de Ricarda da Costa: 
forão Padrinhos João Cardozo, e Iria Soares, de que fis este asento p.
a
constar. O coadjutor Antonio de souza Ferrão. E não se continha mais em 
dito asento que bem e fielmente copiei do proprio, a que me reporto. Cid.
e
 da 
Par.
7 de Mayo de 1801. 
 Fica claro, observando a leitura das certidões lavradas pelos padres da Freguesia da 
Paraíba, que a indicação dos pais do indivíduo de quem se buscava o batistério poderia ajudar 
nas buscas diante da infinidade de assentos paroquiais. Neste caso, Antonio Dantas não 
declarou de quem sua avó materna era filha, conforme vemos no depoimento do padre, que, 
esperando preencher a lacuna, apresentou o registro do batizado de uma Isabel, nascida em 
1696 e filha de Antonio Pereira e Ricarda Costa, que, indubitavelmente, não era a avó do 
Capitão Anta. Considerando que José Dantas Corrêa (2º) nasceu em 1708, segundo o assento 
do seu batizado – este, sim, encontrado nos arquivos paroquiais –, é bastante improvável que 
a Isabel anteriormente mencionada já gerasse filhos nos primeiros anos do século XVIII, além 
do que o nome de Manuel Vaz Varejão não foi mencionado como seu genitor.   
 Mediante o que foi exposto, indagamo-nos: teria, Antonio Dantas Corrêa de Góis, 
desconhecimento das suas raízes familiares paternas, a ponto de informar que o avô José 
Dantas era natural da Cidade da Paraíba e não do norte de Portugal? Da mesma forma, 
questionamo-nos: por que o Capitão Anta não informou os nomes dos seus bisavôs aos 
clérigos da Freguesia de Nossa Senhora das Neves, para facilitar a busca nos arquivos 
paroquiais? A rememoração das linhagens era uma prática constante no âmbito das fazendas 16 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
sertanejas, que se dava tanto pelo ato de recontar o passado à medida que se refazia a linha de 
ascendência e descendência quanto pelo de nomear os filhos com nomes dos ancestrais. Já 
que estamos tratando dos Dantas Corrêa, observemos a descendência do velho Caetano dos 
Picos de Cima, tio do Capitão Anta: além de um filho homônimo, nomes de dois filhos foram 
dados em homenagem a seus tios (Antonio Dantas Corrêa e Gregório José Dantas Corrêa), 
além de uma filha, que herdou o nome da avó paterna (Isabel da Rocha Meireles).  
 Os indícios nos levam a crer, assim, que seria pouco provável que Antonio Dantas 
Corrêa de Góis não soubesse o roteiro dos seus avoengos pelo lado paterno. Assim, qual seria 
a razão de ter omitido os nomes dos seus bisavôs, para, ao menos, facilitar a busca nos livros 
de assento da Freguesia da Paraíba? Haveria receio, por parte do habilitando, de expor seus 
ancestrais por estarem maculados com sangue infecto? Estaríamos, aqui, diante de uma fraude 
genealógica similar àquela estudada por Evaldo Cabral de Mello,
39
 em que Filipe Pais Barreto 
manipulou os nomes e posições de sua ascendência –  atravessada por elementos cristãosnovos – para pleitear o hábito de Cavaleiro da Ordem de Cristo? Ponderemos sobre dois fatos. 
 O primeiro está relacionado a Caetano Dantas Corrêa, tio legítimo do Capitão Anta. 
Como já aludimos no capítulo anterior, a julgar pelas narrativas orais passadas de geração em 
geração, Caetano Dantas teria frequentado, na juventude, um seminário.
40
 Outra tradição 
considera que o patriarca dos Picos de Cima era descendente de cristãos-novos e, por ter sido 
levantada essa hipótese por outrem, teria oferecido a um grupo de frades que vinha de 
Pernambuco, em passagem pela ribeira do Acauã, um almoço onde foi servida carne de porco 
e, como sobremesa, um doce feito à base do sangue desse animal, o chouriço. Servir carne 
suína seria uma forma de despistar alguma desconfiança, por parte dos frades, de que a 
família de Caetano Dantas não havia se convertido,  totalmente, ao catolicismo – já que os 
judeus, conforme preceitua as Escrituras Sagradas, não poderiam comer carne de porco.
41
 O 
                                                           
39
 MELLO, Evaldo Cabral de. O nome e o sangue: uma fraude genealógica no Pernambuco colonial. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1989.   
40
 MEDEIROS FILHO, Olavo de. A tradição popular e o coronel de milícias Caetano Dantas Correia. 
In: DANTAS, José Adelino. O coronel de milícias..., p. 61. Olavo de Medeiros Filho baseou-se, para 
afirmar que Caetano Dantas fora seminarista, em depoimento concedido, em 1969, por Seu Né da 
Jurema – como era conhecido Manuel Paulino de Medeiros, de Ipueira-RN.  
41
 Essa narrativa sobre a origem do chouriço foi contada por Fernando Dantas Arboés, conhecedor de 
genealogia e histórias dos Dantas do vale do rio Carnaúba, baseada no depoimento do seu tio 
Severiano Cassimiro Dantas, que escutou quando criança, no sítio Ermo de Cima. A análise dos seus 
elementos integra o primeiro capítulo da tese de doutorado de Maria Isabel Dantas sobre o chouriço 
(DANTAS, Maria Isabel. O sabor do sangue: uma análise sociocultural do chouriço sertanejo. 2008. 17 
Texto apresentado no IV Encontro Internacional de História Colonial  
Belém, 3 a 6 de setembro de  2012
segundo fato é a provável origem nativa da avó materna de Caetano Dantas, mãe de Isabel da 
Rocha Meireles, sobre a qual já tratamos.  
 Segundo Daniela Calainho, a legislação reinol, a partir do século XVI, deixou 
expressa a discriminação, na vida pública e religiosa, de grupos considerados como de sangue 
infecto: os cristãos-novos, ciganos e descendentes  de índios e mamelucos a partir das 
Ordenações Manuelinas (1514-1521), além dos mulatos e negros a partir das Ordenações 
Filipinas (1603).
42
 Tais indivíduos, por seu sangue “manchado”, seriam inabilitados para 
exercer cargos junto à Igreja Católica, em especial aqueles ligados à Inquisição, como o de 
familiar.  
 A julgar pela conjecturada ascendência de Antonio Dantas Corrêa de Góis, é possível 
que a omissão de sua ascendência (ou dos caminhos para se chegar a ela), a partir dos bisavós, 
tenha sido proposital, com o objetivo de camuflar a mancha do sangue. Todavia, trata-se de 
uma suposição, que necessita de um maior aprofundamento para que possa ser confirmada. 
Em todo caso, os indícios de que a numerosa família dos Dantas Corrêa tenha elementos 
indígenas na composição de seus ramos mais antigos já nos fornece um indicativo de que a 
composição das famílias instaladas na Ribeira do Seridó é mais complexa do que os estudos 
genealógicos determinaram (tendo início, apenas, em indivíduos de origem lusitana ou lusobrasílica).  
                                                                                                                                                                                     
365p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal. p. 
41-7).   
42
 CALAINHO, Daniela Buono. Agentes da fé..., p. 50-1.   

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